Em 2000, eram 12 cursos; hoje são 116. Há dez vezes mais estudantesO que era interesse de poucos virou preocupação de muitos e a área ambiental deixou de ser especialidade para se tornar curso de graduação. Desde o ano 2000, o crescimento no número de cursos com esse perfil no País foi de 822%. A quantidade de alunos pulou de cerca de mil para mais de 10 mil nesse período. E os formandos em busca de emprego em áreas como Gestão Ambiental, Controle Ambiental e Saneamento Ambiental, que sequer existiam há oito anos, já passam dos 2.200.
“Nos últimos anos surgiram leis para fiscalizações mais eficazes, que fizeram com que empresas criassem áreas de meio ambiente. Além disso, cresceu a discussão na mídia sobre desmatamento, poluição, etc.”, diz a coordenadora do curso de Gestão em Tecnologia e Saneamento Ambiental da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Maria Aparecida Carvalho Medeiros. “Esse conjunto de fatores pede que o profissional seja bem formado”, completa.
Segundo o levantamento do Ministério da Educação (MEC), feito a pedido do Estado, as vagas em vestibulares em 11 cursos da área cresceram mais de 1.000% desde 2000. Os números mais recentes são de 2006 e mostram 8.377 vagas em universidades públicas e particulares no País. Em 2000, eram 732.
Muitos dos cursos ambientais surgiram dentro da nova modalidade de graduação, os cursos tecnológicos, com formação mais rápida (em menos de quatro anos), menos acadêmica e voltada para o mercado de trabalho. Além da criação de novos cursos, os que já existiam foram reestruturados e até mudaram de nome para atender as demandas ambientais recentes.
Um exemplo é a modalidade de Saneamento Básico que, segundo os números do MEC, não aumentou o número de cursos entre 2000 e 2006 e teve queda de 81% nas matrículas. Enquanto isso, Saneamento Ambiental, que tinha só um curso no País em 2001, agora tem nove e as vagas cresceram quase 300%. “A área de ambiente mostrou desafios que o País nem imaginava”, diz o secretário do Ensino Superior do MEC, Ronaldo Mota.
“Surgiu uma consciência ambiental no mundo todo. Percebeu-se que é uma questão de sobrevivência”, explica a coordenadora do curso de Ecologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Maria Christina de Mello Amorozo. O curso, criado nos anos 70, foi primeiro do Brasil na área. Ela explica que, ao longo das décadas, a produção científica fez com que alguns fundamentos mudassem e o currículo do curso tivesse de ser adaptado. “No passado, havia uma grande preocupação de que a explosão demográfica prejudicaria muito o ambiente. Hoje, já se percebe que mesmo que parassem de nascer pessoas os problemas da ecologia não estariam resolvidos”, diz.
MULTIDISCIPLINAR
O meio ambiente é uma área multidisciplinar e até por isso ficou por muito tempo restrito aos programas de pós-graduação - procurados principalmente por engenheiros, biólogos e químicos. Hoje, os novos cursos incluem disciplinas de química, biologia, física, direito, economia, cartografia e responsabilidade social. “O aluno pode trabalhar em diversas áreas, em ONGs, empresas, fazendo relatórios de impacto ambiental ou como gestores de políticas de meio ambiente”, diz o vice-coordenador do curso de Gestão Ambiental da unidade na zona leste da Universidade de São Paulo (USP Leste), Paulo Sinisglli.
O curso forma sua primeira turma de 60 alunos neste ano. Desde que foi criado é um dos mais concorridos na nova unidade da USP. O estudante do 3º ano Evandro Branco, de 28 anos, acredita em um mercado de trabalho promissor. Já formado em Arquitetura, ele optou por cursar Gestão Ambiental e acha que a remuneração financeira será melhor. “Há muitos técnicos em meio ambiente. O mercado está carente de profissionais com graduação na área”, diz.
Um potencial empregador desses formandos, o presidente da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), Fernando Rei, acredita que a profusão de cursos é ainda maior que a necessidade do mercado. Ele conta que o que tem crescido são postos de trabalho júnior, com salários entre R$ 1.000 e R$ 2.500. “Ainda falta muita gente qualificada, com experiência. Só os cursos de graduação não conseguem formar esse profissional.”
(Renata Cafardo,
O Estado de São Paulo, 25/02/2008)