O interesse de uma empresa norte-americana em instalar uma usina de geração de energia elétrica a partir de dejetos de aves e suínos aos poucos começa a projetar mudanças no cenário econômico de São Ludgero, município de 10 mil habitantes, cuja base da economia está sustentada pela indústria plástica e agropecuária.
Segundo informações do governo do Estado, o investimento do grupo Contour Global será de US$ 128 milhões, com possibilidade de início das operações em 2010.
O secretário Regional de Desenvolvimento Gelson Padilha, diz que a dimensão real do negócio só deve ser conhecida a partir de maio, quando a empresa interessada apresentará o projeto da usina. Além do esterco dos aviários também serão utilizados serragem e restos de ração.
- A idéia é utilizar os dejetos de aves em um primeiro momento, mas a suinocultura também deve ser fornecedora de material - conta.
A prefeitura de São Ludgero já analisa áreas que podem ser escolhidas para a implantação da usina. O engenheiro civil Jânio Paladini informa que 12 terrenos, alguns próximos da área urbana, foram considerados.
Benefício ambiental é uma das vantagens
O aproveitamento dos dejetos de frangos e mais tarde dos suínos representa um avanço ambiental.
- É uma alternativa interessante pois dá uma destinação ecologicamente correta aos dejetos que são poluidores do meio ambiente - diz o engenheiro agrônomo da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri), Luís Carlos Lunardi.
Clodoaldo Becker, cuja propriedade tem quase 70 mil frangos, está otimista com a possibilidade de venda dos dejetos.
- Não se conhece muito a respeito dessa usina, mas se der realmente certo será muito bom para toda a região - acredita o criador.
O investidor
A Contour Global tem sede em Nova York e controla oito indústrias de geração de energia elétrica em várias partes do mundo. No ano passado, a multinacional investiu cerca de US$ 300 milhões em uma hidrelétrica em São Domingos, cidade de 12 mil habitantes no interior de Goiás.
Empresa abastecerá toda cidade
A apresentação do projeto da usina de geração de energia a partir de dejetos de aves e suínos está prevista para maio, mas o prefeito de São Ludgero, Ademir Gesing, informa que a capacidade de geração do complexo deve ser de 30 megawatts, suficiente para iluminar o próprio município, com 2,7 mil residências, além de parte da vizinha Braço do Norte.
Quando a área for escolhida e as obras tiverem início, a usina irá formar um novo e forte tripé na economia, com a geração de empregos, impostos sobre a energia elétrica e, por fim, a viabilidade de surgimento de outras indústrias.
A estimativa da prefeitura é de que pelo menos 400 operários trabalhem na construção do empreendimento durante dois anos. Em operação, entre 50 e 60 funcionários devem atuar no local. Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Rodrigo Felipe, isso vai causar reflexos bastante positivos no comércio local.
- As indústrias fazem o comércio vender. Se hoje não tivéssemos fábricas, o comércio fecharia as portas. E como virá uma nova indústria o efeito é excelente para as vendas - diz o dirigente, que reúne na entidade mais de 70 associados.
O grande trunfo da usina, segundo o prefeito Gesing, está na abertura do caminho para outros investimentos. Por enquanto, o município não consegue atrair grandes empresas justamente pela falta de fornecimento de energia.
- Hoje estamos proibidos de falar em médias e grandes empresas porque o município não tem capacidade de geração de energia e esse será o diferencial da futura usina. Depois de pronta, teremos condições necessárias para outros empreendimentos - comemora o prefeito.
A usina também deve projetar um aumento, ainda não contabilizado pela prefeitura, na arrecadação do município por conta dos imposto sobre energia elétrica. Hoje, o município de São Ludgero tem uma receita mensal de R$ 1,1 milhão.
Renda extra para os criadores
O processo da geração de energia da usina em São Ludgero terá como base a queima dos dejetos da avicultura, compostos principalmente pelas fezes das aves e restos de serragem e ração. O trabalho deve gerar renda extra para os criadores.
A gerente da Epagri de Tubarão, Luiz Marcos Bora, explica que o material disponível nos aviários passará pelo processo de secagem antes da queima nas caldeiras.
- O calor vai produzir vapor, que por sua vez movimenta as turbinas geradoras da energia. O processo é semelhante ao utilizado na Usina Jorge Lacerda, em Capivari de Baixo. Apenas o material, o carvão, que é diferente - conta.
O criador Irmoto Schilickmann já ouviu falar no assunto e considera a idéia positiva, pois até as pequenas propriedades podem ganhar uma renda extra com a venda dos dejetos.
- Tenho 15 mil frangos que produzem 30 mil litros de dejetos por mês. É pouco, pois a propriedade é pequena, mas se fosse utilizado nessa usina já ajuda a preservar a natureza - comenta.
A geração de energia com material alternativo já é utilizada com sucesso em Santa Catarina. Em Lages, o aproveitamento dos resíduos da indústria madeireira é feito desde 2004 na usina de biomassa controlada pela Tractebel. O empreendimento de 28 megawatts dá uma destinação correta a 400 mil toneladas de materiais como serragem por ano.
(Por MARCELO BECKER,
Diario Catarinense, 25/02/2008)