A melhoria do transporte aéreo de passageiros e de cargas da Serra vive um momento de dualidade. Embora o governo federal tenha R$ 100 milhões em seu orçamento para investir em um novo terminal, entre as lideranças da região não há consenso sobre a localização do novo aeroporto. À parte os interesses de um e outro município, recentes estudos técnicos do Departamento Aeroportuário do Estado (DAP), da Anac e do Cindacta II apontam que a área ideal é a de Vila Oliva, no interior de Caxias do Sul.
Há quase duas décadas, a construção de um novo aeroporto na Serra não consegue decolar. O principal entrave é quanto à área que receberia o terminal, destinado a atender passageiros de rotas domésticas e internacionais e realizar transporte de cargas em grande escala. As cidades de Canela, Caxias do Sul e Farroupilha brigam para sediar a obra, tanto que se chegou a cogitar que dois aeroportos seriam erguidos: um na Fazenda do Ipê, voltado à demanda de turistas da Região das Hortênsias, e outro em Vila Oliva, distrito de Caxias, para atender mais ao pólo industrial. Se esse sonho de políticos e empresários fosse possível, a Serra galgaria uma posição mais que privilegiada, com novos aeroportos a apenas 20 quilômetros de distância em linha reta. Entretanto, esse desejo, que custaria pelo menos R$ 120 milhões, não deve se tornar real.
Pareceres técnicos emitidos recentemente pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e pelo Segundo Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta II) defendem que somente o terreno de Vila Oliva, com 445 hectares, seria viável para investimentos. O Departamento Aeroportuário do Estado (DAP) também chegou a essa conclusão.
Semana passada, havia a esperança de que o debate sobre a localização do aeroporto avançasse, durante uma reunião temática com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, na Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias. Entretanto, devido a outros compromissos, Jobim cancelou o encontro. Não há previsão de novo agendamento.
- O que existe de concreto até agora é o nosso estudo, que sugere escolher o sítio aeroportuário de Caxias e abortar o projeto de um aeroporto nas Hortênsias, porque haveria confronto de tráfego - revela Roberto Carvalho Netto, gerente da Anac para a Região Sul.
Área de campo, as terras de Vila Oliva teriam condições para abrigar um aeroporto com pista de 3 a 4 mil metros de extensão (o atual aeroporto de Caxias tem pista de 2 mil metros) e capacidade para operar com cargueiros como um Boeing 747-300. Outro diferencial é que o licenciamento ambiental da área seria facilitado, segundo o engenheiro Fernando Cavalcanti Bizarro, do DAP, porque não existe floresta nativa, apenas vegetação rasteira e pomares. O mais recente Plano Diretor de Caxias, aprovado em 2007, prevê o destino daquela área para um aeroporto.
A área sugerida na comunidade de Mato Perso, em Farroupilha, estaria descartada tecnicamente por abrigar uma bacia de captação, ser acidentada, ficar próxima à região com moradias e ainda haver obstáculos aéreos, como a Igreja de Nossa Senhora de Caravaggio, explica Bizarro. Nas terras farroupilhenses, a pista poderia ter no máximo 2,4 mil metros. Já em Canela, onde o projeto se arrasta desde 1989, o maior empecilho seria ambiental, uma vez que 51% da área é de floresta pinus e 4,72% de mata nativa.
Nem o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), na esfera federal, nem a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) querem se responsabilizar pelo licenciamento, e o caso é discutido na Justiça Federal desde 1999. Entretanto, a opção por Vila Oliva excluiria a obra em Canela, lembra Sérgio Sparta, diretor do DAP.
Discussões
Com a preferência por Caxias, são previsíveis novos embates entre políticos e empresários da região. Ainda em 15 de dezembro de 2006, o engenheiro Bizarro, então diretor do DAP, assinou parecer positivo para construção do aeroporto na área de Vila Oliva. Várias reuniões se sucederam em CICs e Câmaras de Vereadores e, apesar da avaliação técnica, não houve consenso nem avanços. O ex-presidente da Anac, Milton Zuanazzi, participou de alguns desses encontros e, pressionado, em vez de se posicionar a partir dos dados técnicos preferiu determinar a reavaliação de áreas pelo órgão, conforme revela uma fonte da Anac. Assim, tudo ficou como estava.
Com a área confirmada, uma grande empreitada viria pela frente: desapropriação das terras (no caso de Vila Oliva,13 famílias), elaboração de projeto e captação de recursos. Esse último item já estaria assegurado, uma vez que no início do ano a bancada gaúcha no Congresso Nacional, formada por 31 deputados e três senadores, conseguiu aprovar uma emenda de R$ 100 milhões no Plano Plurianual do governo federal (2008-2011 ) para o aeroporto. Esse dinheiro é certo, só que para vir é preciso existir uma área definida e um projeto.
- Seja qual for a cidade beneficiada, tem de haver uma decisão para que possamos prever avanços. Uma região próspera como a nossa precisa de um aeroporto maior e mais equipado - opina Milton Corlatti, presidente da CIC de Caxias.
(Por Nádia de Toni, Pioneiro, 25/02/2008)