Depois de defender o uso da soja para a produção de biodiesel, o presidente Luís Inácio Lula da Silva mudou seu discurso. Ontem, durante sua fala no Fórum Globe para legisladores do G8+5, ele afirmou que a soja pode ser um risco. Para o presidente o plantio da palmeira de dendê seria a solução para a produção de biodiesel nacional. "A soja é inviável e perigosa, pois é uma commodite agrícola. O óleo de dendê, nativo da Amazônia, pode ser a salvação tanto para o Brasil quanto para a África e a América Latina", disse o presidente se referindo a palmeira que na verdade é originaria da costa oriental da África e foi introduzida no Brasil a partir do século XV. Apesar do erro geográfico, o presidente acertou em dizer que o dendê é uma das oleaginosas mais produtivas do ponto de vista energético. Estudos da Petrobras revelam que o óleo dessa palmeira é trezentas vezes melhor para fabricar biodiesel que a soja e a mamona.
Lula também enfatizou a importância do programa de agroenergia nacional. "Desde 1975, o preço do barril de petróleo não chegava à U$ 100 dólares. Esse é um sinal claro que a matriz energética mundial vai ter que mudar. Os biocombustíveis brasileiros terão um papel fundamental nessa transição", disse. Outro ponto levantado pelo presidente foi a questão do desmatamento. Com muitos números na ponta da língua, ele disse que o país possuí áreas de pastagens degradadas suficientes para serem reaproveitadas na produção de biocombustíveis. "A desculpa ambiental não pode mais ser usada pelos países ricos para criar barreiras aos produtos brasileiros. Podemos produzir sem derrubar as florestas", disse.
Entre os pontos negativos do plantio do dendê está justamente a ameaça à Amazônia. Se a cultura avançar sobre áreas de florestas nativas, ela pode aumentar o desmatamento. A palmeira já gerou problemas semelhantes em outras florestas tropicais do mundo. O caso mais grave ocorre na Indonésia. Estudos do WWF apontam que as culturas de dendê podem fazer as florestas da região desaparecerem em dez anos.
No Brasil, a esperança recai sobre as promessas de Lula. A única chance do dendê não se tornar uma nova ameaça à Amazônia, é restringir suas plantações aos 16 milhões de hectares de pastos abandonados que existem na região.
(Juliana Arini,
blog do planeta, 25/02/2008)