Brasil e Argentina decidiram na sexta-feira (22/08) desenvolver um reator nuclear para aliviar a demanda crescente de energia elétrica nos dois países. Planejam criar uma empresa binacional de enriquecimento de urânio.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente argentina Cristina Kirchner assinaram uma extensa lista de acordos e cooperação, que inclui energia, defesa e obras de infra-estrutura.
Uma comissão binacional será constituída para "desenvolver um modelo de reator nuclear de potência que atenda às necessidades dos sistemas elétricos de ambos o países e, eventualmente, da região", diz o texto do acordo.
A comissão terá que elaborar um relatório sobre o assunto antes do fim de agosto de 2008 e definir um projeto comum na área do ciclo de combustível nuclear.
Brasil e Argentina pretendem constituir uma empresa binacional de enriquecimento de urânio, cujas negociações começam nos próximos 120 dias.
"Vamos lançar um satélite conjunto e desenvolver um programa de cooperação pacífica na área nuclear, que será exemplo para o mundo conflagrado pela tentação armamentista e pela intolerância política e ideológica", disse Lula em discurso no Senado argentino.
Os dois países têm duas centrais atômicas em funcionamento e pertencem ao restrito grupo de nações que dominam a tecnologia de enriquecimento de urânio para produzir combustível nuclear.
Os acordos firmados estabeleceram ainda que em agosto já estará funcionando o sistema para abandonar o uso do dólar no comércio bilateral e que começa este ano o processo para a construção da usina hidrelétrica Garabi, sobre o rio Uruguai.
Outro ponto dos acordos é a possibilidade de que a Embraer venda aeronaves no mercado argentino e que partes da família de aviões 170/190 da empresa brasileira possam ser produzidas em Córdoba.
"Vamos melhorar a integração física, aprofundar a cooperação em energia, avançar em projetos conjuntos na área de defesa e construir juntos o sonho da livre circulação de pessoas", acrescentou Lula, no Senado.
A presidente Cristina Kirchner disse que ela e Lula decidiram realizar reuniões semestrais para acompanhar o andamento dos acordos.
"Quanto mais profunda for a integração (...), as minorias que ainda sonham com que não possamos construir este Mercosul serão definitivamente derrotadas", disse a presidente Argentina.
REUNIÃO COM MORALES
Lula e Cristina Kirchner irão negociar também uma solução para o tenso cenário energético dos dois países, que tentam obter da Bolívia todo o gás natural que necessitam para manter suas indústrias funcionando e evitar racionamentos.
No sábado pela manhã, Cristina e Lula se reunirão com o presidente boliviano Evo Morales para discutir a tensa situação, agravada pelo crescimento das duas maiores economias da região.
"A questão energética passa a ser uma questão mundial e muito delicada", disse Lula, acrescentando que toda a América do Sul precisa se envolver nesse debate.
O Brasil importa até 30 milhões de metros cúbicos diários de gás boliviano, enquanto a Argentina compra até 7,7 milhões e pretende quadruplicar esta quantidade nos próximos anos.
O governo de Cristina Kirchner pleiteia que o Brasil ceda parte de seu consumo para redirecioná-lo à Argentina e evitar que no próximo inverno o país sofra os inconvenientes que atravessa desde 2004 por problemas de oferta.
Nos acordos firmados na sexta-feira entre Lula e Cristina, um dos pontos estabelece que o Brasil se esforçará em exportar mais eletricidade à Argentina neste inverno.
(Por César Illiano e Walter Bianchi,
Reuters Brasil, 22/08/2008)