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exploração de petróleo passivos do petróleo
2008-02-25
As "areias oleosas" do norte de Alberta são o empreendimento energético estrategicamente mais importante do mundo na última década. Uma mistura de betume, argila, areia e água, as areias ficam pouco abaixo da superfície de 140 mil quilômetros quadrados de "muskeg", um termo canadense que designa os bosques pantanosos boreais que se estendem ao redor dos dois maiores rios do Canadá, o Athabasca e o Peace, e também do lago Cold Lake. A maior parte delas está localizada na província de Alberta, no oeste do Canadá, apesar de uma quantidade de betume também se estender até Saskatchewan, mais ao leste.

A reserva de óleo é a maior do mundo: alguns estimam que debaixo do muskeg existam até 3 trilhões de barris de petróleo. Esse número é em grande parte irrelevante, porque o único petróleo que interessa é aquele que pode ser extraído. Mesmo assim, acredita-se que as reservas renováveis comprovadas estejam em torno dos 175 bilhões de barris, deixando-as em segundo lugar no mundo perdendo apenas para as da Arábia Saudita, estimadas em 264 bilhões de barris.

Por se tratar de uma fonte não convencional de petróleo, explorar as areias oleosas era, até algum tempo atrás, simplesmente muito caro para valer a pena. Em meados dos anos 90, extrair um barril de petróleo das areias alcatroadas custava cerca de U$ 35. Enquanto os preços do petróleo flutuavam em torno de US$ 10 por barril no final do século passado, as poucas companhias envolvidas com a extração nas areias oleosas tinham prejuízos. Desde então, elas eliminaram esse processo e o substituíram por outro que diminuiu o custo final do barril para algo entre US$ 15 e US$ 20. Hoje, com os preços do petróleo chegando a mais de US$ 80 por barril, as areias oleosas se tornaram muito lucrativas.

Todas as maiores companhias de petróleo do mundo estão sob pressão para substituir suas reservas. Fora do Canadá, isso ficou difícil. Operar nos outros países grandes produtores de petróleo tem se tornado cada vez mais arriscado politicamente, desde que o equilíbrio de poder se transferiu dos "grandes produtores" para os governos ricos em energia. Então agora as companhias estão debandando para Alberta. A única petrolífera ocidental que parecia resistente em relação às areias oleosas, a BP, recentemente se juntou à corrida do petróleo. A Shell comprou o controle de sua subsidiária local.

As companhias que operam nas areias oleosas dizem que vão investir mais de US$ 98 bilhões em Alberta na próxima década. Isso deverá aumentar a extração para 4 milhões de barris por dia em 2020, comparados ao 1,3 milhão de hoje.

A corrida para as areias oleosas transformou Fort McMurray, que já foi uma cidade de comércio e hoje é o centro do boom do petróleo canadense, numa espécie de cidade de fronteira ao norte do Canadá vista pela última vez nos dias da corrida do ouro de Klondike. A população de "Fort McMoney", como alguns chamam a cidade, poderá chegar a mais de 120 mil habitantes nos próximos anos, em comparação aos 40 mil que tinha no começo dos anos 90. Para uma cidade em que a temperatura varia entre os 40 graus negativos num dia de inverno e os 40 positivos no verão, isso é um feito.

Alberta está rapidamente se transformando num Estado petrolífero. O setor energético emprega, direta ou indiretamente, um entre seis trabalhadores. Fazendeiros das regiões produtoras do país deixaram a criação de gado de corte e leite para trabalhar na construção. E ainda assim falta de mão-de-obra especializada. Algumas companhias de óleo estão contratando trabalhadores "voadores" de outros Estados, de lugares tão longínquos quanto Newfoundland, a 4 mil quilômetros de Fort MacMurray. Eles ficam lá por duas semanas depois voltam para casa no avião fretado pela companhia. As indústrias abriram estradas pelo muskeg para aterrissar seus aviões. Alberta está pressionando o governo federal canadense para amenizar as leis de imigração com o objetivo de suprir a demanda por mão-de-obra especializada. "Precisamos de soldadores", disse um executivo. "Você não quer ser um soldador?"

As capitais política e financeira de Alberta - Edmonton e Calgary - também passam por seus próprios booms de crescimento. Calgary, que já foi uma cidade cheia de campos e cuja principal atração era a proximidade das rampas de esqui das Motanhas Rochosas, é hoje a cidade mais dinâmica do Canadá. A EnCana, uma das maiores construtoras do país, chamou o arquiteto Norman Foster para desenhar o "The Bow", um novo arranha-céu de 236 metros que será um marco apropriado para a autoconfiança de Calgary. Moradores de Toronto ainda zombam dos canadenses do oeste por causa de seu atraso. Mas o dinheiro, o poder e os novos imigrantes estão indo para Alberta, e não para Ontário.

Como motor da economia, as areias oleosas estão fomentando o crescimento do país ainda que, conforme determina a constituição, Alberta retenha boa parte dos lucros com as areias. O valor total das areias para o Canadá estaria em torno de US$ 775 bilhões até 2020, de acordo com a Alberta Energy. O Estado, entretanto, deve reter cerca de US$ 618 bilhões desse valor.

Isso poderia garantir a transformação do Canadá em um país petrolífero. Mas não em um país petrolífero qualquer: e sim num país que, efetivamente, tem como cliente os Estados Unidos. Num futuro próximo, os Estados Unidos poderão ser os únicos importadores significativos do petróleo canadense.

O que pode ser politicamente impopular entre os canadenses, já que a identidade nacional é em boa parte baseada no fato de não ser americano. Além disso, o Canadá não refina nenhum dos produtos em seu território. Isso significa que, enquanto Alberta vende betume ou petróleo cru sintético a um preço razoavelmente mais barato do que a West Texas Intermediate, de New York, os compradores podem refinar e transformá-lo em produtos mais lucrativos. A WTI vende o barril por cerca de US$ 90. O betume de Alberta sai por menos de US$ 70 o barril. Se o betume fosse todo beneficiado e refinado em Alberta, o Estado poderia vender seus produtos para os EUA por cerca de US$ 200 a US$ 1000 o barril.

Alberta quer persuadir as companhias a construir novos centros de beneficiamento e refinarias na província, mas é pouco provável que isso aconteça. As companhias americanas querem seus produtos próximos para a venda, e a perspectiva de comprar produtos a um preço mais alto é pouco atrativa uma vez que as mesmas companhias que produzem o óleo no Canadá podem refiná-lo nos Estados Unidos.

Qualquer que seja o rumo que a política de areias oleosas tome, ecologicamente a exploração é um desastre. Produzir o óleo consome muita energia. A organização ambiental local Pembina Institute, que trilha um caminho solitário numa província que não dá muita atenção à ecologia, diz que os métodos de extração tradicionais requerem 21 metros cúbicos de gás natural para produzir um barril de petróleo; isso pode aumentar para 42 metros cúbicos usando novas técnicas. Levando em conta as taxas de produção atuais, diz o Penimba, as areias consomem cerca de 17 milhões de metros cúbicos por dia de gás - o equivalente ao consumo diário de 3,2 milhões de casas.

A água também é outro problema. São necessários cinco barris retirados do rio Athabasca para produzir um barril de petróleo cru. Menos de 10% é devolvido ao rio, o restante fica nos depósitos de resíduos tóxicos, antes de se infiltrar novamente na terra. E além disso há a mudança climática. Produzir petróleo sintético gera três vezes mais gases de efeito estufa do que a produção do petróleo convencional, e as areias são as maiores responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa no Canadá.

As areias petrolíferas são uma bênção para o país, e a chegada de outro grande produtor junto com a Arábia Saudita e a Rússia poderia transformar a política internacional do petróleo. Mas como uma metáfora do que se tornou nosso vício por petróleo, é difícil explorar as areias alcatroadas de Alberta.

(Por Derek Brower*, Prospect, tradução de Eloise De Vylder, UOL, 25/02/2008)
* Derek Brower é jornalista especializado em petróleo, gás e políticas energéticas.


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