Os celulares há muito começaram a conquistar partes do mundo que estão muito distantes da subestação elétrica mais próxima. Mas o aumento dos preços do petróleo está expondo um problema com as redes que conectam os aparelhos móveis.
Em pontos distantes de locais como Índia ou África, onde empresas como Ericsson ou Nokia Siemens Networks, uma joint venture da Nokia e Siemens, estão instalando novas estações de rádio-base de celulares em um ritmo vertiginoso, as instalações quase sempre são alimentadas por geradores a diesel. Mas o combustível pode representar até dois terços dos custos operacionais da estação. Adicione a isto a despesa de transportar o diesel por estradas ruins até locais remotos e de proteger o valioso combustível contra roubo. "Levar a gasolina ou o diesel para aquelas estações é tremendamente difícil", disse Mats Granryd, presidente da Ericsson Índia.
Implantação rápida
Como resultado, a energia verde repentinamente está se tornando mais do que um projeto de boas relações públicas para os provedores mundiais de telefonia móvel. À medida que as redes de telefonia se expandem para além das redes elétricas, elas precisam encontrar alternativas para o diesel. Após anos testando estações alimentadas por vento, energia solar ou biocombustível, os fornecedores de equipamentos estão se preparando para implantar tecnologia movida a energia alternativa em números significativos.
"Nós estamos começando a ver isto sendo implantado globalmente", disse Dawn Haig-Thomas, diretora do fundo de desenvolvimento da GSM Assn., uma entidade setorial. "É nossa área mais quente." Duas operadoras de rede asiáticas em breve anunciarão planos para mais de 500 novas estações de rádio-base alimentadas por uma combinação de sol e vento, disse Haig-Thomas. (Ela não quis dizer o nome das operadoras.)
Resolver o problema de energia é chave para a manutenção do crescimento do setor de telefonia móvel. O número de assinantes de celulares deverá crescer dos atuais 3 bilhões para 5 bilhões em 2015. Uma grande proporção desses novos usuários estará em áreas rurais pobres com pouca infra-estrutura. A Flexenclosure, uma empresa sueca que produz abrigos para o equipamento da estação de rádio-base, estima que, apenas na África, 40 mil novas estações de rádio-base estarão localizadas além do alcance de rede elétrica confiável nos próximos dois anos.
Energia barata e confiável
Graças aos avanços na tecnologia, está se tornando mais prático utilizar energia renovável nas estações de rádio-base. Por exemplo, atualmente é necessário apenas um quarto de placas de energia solar para alimentar uma estação do que há cinco anos, segundo um recente estudo da Ericsson. Os produtores de equipamento também têm dedicado mais esforço em reduzir o consumo de energia das estações. Na Índia, a Ericsson enterra as baterias para uma estação de rádio-base a 6 metros de profundidade, reduzindo a necessidade de equipamento de refrigeração que consome energia (e também reduzindo o risco de roubo).
A instalação do equipamento de rádio no topo da torre, ao lado da antena, também poupa energia -quanto mais curto o cabo ligando o rádio à antena, menos energia é perdida na transmissão. A Nokia Siemens também trabalha para reduzir o consumo de energia com software que desativa parte da estação à noite, quando há menos demanda. "Esta é uma grande área de concorrência: quem oferece a estação de rádio-base que consome menos energia?", disse Haig-Thomas.
A meta é de que as estações de rádio-base gerem sua própria energia. No Estado indiano de Maharashtra, a provedora de telefonia móvel Idea Cellular, trabalhando em conjunto com a Ericsson e a GSM Assn., está operando quatro estações de rádio-base com uma mistura de diesel e biocombustível produzido localmente. Atualmente o combustível é refinado a partir de óleo de cozinha usado, mas em poucos anos o biocombustível poderá vir do jatropha (pinhão-manso) um arbusto que produz óleo que é cultivado pelos agricultores locais.
,b>Misturando vento e sol
Na Nokia Siemens, os engenheiros preferem o uso de energia solar e eólica, em parte por não gerar dióxido de carbono. O problema é que poucos locais dispõem tanto de sol quanto vento. Muitas regiões da Índia dispõem de ampla oferta de luz solar durante grande parte do ano -mas pouca durante a estação das monções. Assim, os fabricantes estão buscando instalações que usem tanto o vento quanto o sol. A Flexenclosure apresentou recentemente um projeto de uma estação que contém um gerador eólico no topo da mesma torre que apóia a antena. Painéis solares ficam no telhado do abrigo que protege o equipamento de telefonia.
O investimento inicial para uma estação de rádio-base destas é mais alto do que de uma alimentada a diesel. (O custo real varia muito de acordo com a localização.) Mas as estações alimentadas por energia eólica e solar custam muito menos para operar. E o custo é mais previsível porque os operadores da rede não precisam se preocupar com as flutuações do preço do petróleo. "Assim que elas estão funcionando, elas virtualmente não precisam de manutenção. Só é preciso que alguém vá limpar os painéis de vez em quando", disse Anne Larilahti, chefe de negócios ambientalmente sustentáveis da Nokia Siemens. "Quando se leva em consideração o custo total de propriedade ao longo de cinco anos, o argumento comercial começa a parecer muito bom."
Tão bom, na verdade, que algum dia estações de rádio-base verdes poderão começar a aparecer em países desenvolvidos, onde a rede elétrica é ubíqua e confiável, mas cresce a pressão para reduzir as emissões de carbono. É o amanhecer da rede de telefonia móvel verde.
(Por Jack Ewing, Der Spiegel, tradução de George El Khouri Andolfato, UOL, 21/02/2008)