Stédile diz que autorização para plantio de transgênico só interessa às multinacionais Um dos principais dirigentes e pensadores do MST, João Pedro Stédile, criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quinta-feira, 21, em entrevista à TV Estadão, ao abordar a questão dos transgênicos. "Já avisei ao Lula. Lula, cuidado com o milho transgênico. Só interessa à Monsanto e à Bayer. Lula, você vai entrar para a história como puxa-saco das multinacionais se aprovar os transgênicos", avisou. Stédile não poupou críticas ao presidente Lula, que o MST ajudou a eleger. Disse que a situação piorou no seu governo e que não houve avanços na reforma agrária nos últimos anos.
No último dia 12, o Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS) aprovou o plantio e a comercialização de duas variedades de milho transgênico no Brasil. As variedades aprovadas foram da Bayer CropScience e da Monsanto. O milho transgênico é o terceiro produto agrícola alterado geneticamente a receber autorização de plantio no Brasil, depois da soja e do algodão, ambos com patente da Monsanto.
Movimentos, como o MST e a Via Campesina, representados por Stédile, criticam a posição do governo sob o argumento de que não há estudos completos que garantam que as variedades de milho são seguras à saúde e ao meio ambiente.
"Faço parte da geração que se iludiu com o 'Lula lá'", disse Stédile. Ele disse ainda que "nos últimos seis anos, aumentou a concentração da propriedade da terra". E completou: "Está havendo no Brasil uma contra reforma agrária. Com um agravante, parte das grandes propriedades que estão se acumulando são do capital estrangeiro".
Ele afirmou ainda discordar dos que dizem que Lula "abriu as torneiras" para o movimento. Segundo ele, o dinheiro que os assentamentos recebem é usado na alfabetização de adultos no meio rural."Esse papel não é do MST. É do Estado. Mas como o Estado está debilitado e não chega às zonas mais pobres, faz convênio com o MST. Aí chega um deputado e diz que o MST recebe R$ 20 milhões, mas não diz que o movimento recebe para alfabetizar jovens e adultos", justifica. Ele negou que essa formação tenha viés ideológico.
O líder do MST negou que o movimento tenha qualquer ligação com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) ou que faça apologia ao crime, como quando o movimento promove a invasão de praças de pedágios. Stédile voltou a defender a destruição dos laboratórios da Aracruz, em 2006, por mulheres da Via Campesina.
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O Estado de São Paulo, com Reuters, 22/02/2008)