Depois da ocorrência de violentos protestos de madeireiros em Tailândia, município no nordeste do Pará, a governadora Ana Júlia Carepa (PT) suspendeu a operação de retirada de grande volume de madeira apreendida, mas avisa: vai executar a medida e leiloar o material apreendido, como previsto.
"Foi uma reação de madeireiros inescrupulosos, acostumados a trabalhar assim, enquanto os governos anteriores do Pará não agiam", disse a governadora à Reuters por telefone nesta quinta-feira. Ela afirmou que o Estado retirou da cidade os servidores e fiscais que corriam perigo.
"Não vamos nos intimidar", completou. Ainda não há, no entanto, uma data para a continuidade da ação e o mais provável é que o dia seja mantido em sigilo para evitar a violência.
"A operação vai continuar. Vamos tirar a madeira de lá. A operação pode demorar 15, 30, 40 dias, mas vamos retirar", garantiu a governadora.
Foram apreendidos em Tailândia, a 235 km de Belém, 13 mil metros cúbicos de madeira ilegal na semana passada e apenas uma parcela das 140 serrarias cadastradas foi avaliada pelo governo paraense na ação em conjunto com o Ibama. A previsão é de que a retirada da madeira, que permanece com as madeireiras, necessite de uma frota de 500 caminhões.
Ana Júlia disse ainda que vem discutindo com seus auxiliares a necessidade da cooperação com a Força Nacional de Segurança Pública (força de elite requisitada por Estados ao governo federal) na continuidade das medidas.
"Por enquanto não achamos necessário, estamos dando conta. Mas não vamos nos furtar", declarou.
TROPA DE CHOQUEComo reação à fiscalização, manifestantes insuflados por madeireiras, como acredita o governo paraense, realizaram protesto violento na terça-feira em Tailândia, que terminou em confronto com a tropa de choque da Polícia Militar. Foram mobilizados 200 policiais do choque.
Bolas de borracha e bombas de efeito moral foram usadas para revidar as pedras jogadas pelos manifestantes contra os policiais. Havia cerca de 1.000 pessoas envolvidas diretamente no protesto, segundo informou a PM do Pará. Mas o protesto atraiu um número bem maior de moradores, que não chegaram a participar da violência.
Fiscais foram retidos no interior de serrarias e só saíram com a chegada do reforço dos policiais. Cinco pessoas foram detidas pela polícia e já liberadas e outras quatro foram ouvidas pela Polícia Civil.
"A tropa de choque continua em Tailândia, mas a situação agora está controlada", disse um porta-voz da Polícia Militar do Pará.
Localizada em meio à rodovia PA-150, Tailândia, de pouco mais de 40 mil habitantes, é apontada como um dos dez municípios mais violentos do Brasil.
Os mais recentes dados divulgados pelo governo federal indicam que de agosto a dezembro cerca de 7.000 quilômetros quadrados de mata foram derrubados, o que significa dois terços da taxa registrada entre agosto de 2006 e julho de 2007. O levantamento serviu de alerta para uma ação mais rígida contra o desmatamento.
A ação de apreensão da madeira pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais) e secretaria do Meio Ambiente do Pará é praticamente inédita no Estado, que até agora fiscalizava, autuava e multava o corte ilegal da madeira, mas deixava o madeireiro como "fiel depositário" das toras.
"Em pouco tempo, ele dava um destino, vendia, sumia com a madeira", disse um assessor da Secretaria do Meio Ambiente do Pará.
A operação está sendo possível a partir de acordo do governo estadual com o Ibama, assinado em novembro. Pelo acerto, a madeira será leiloada e os recursos serão revertidos para a fiscalização do desmatamento ilegal. Na estimativa da governadora, a venda deve gerar 3 milhões de reais.
O nome Tailândia foi herdado de um projeto no local e remete às lutas pela posse da terra, que no país asiático chegaram a uma situação de guerra.
INDÚSTRIA QUER GARANTIASA Uniflor, associação paraense que representa sindicatos da indústria madeireira, defende a fiscalização da madeira ilegal, mas cobra do Estado ações para garantir os investimentos na área.
"A fiscalização é necessária, tem que acontecer, mas sozinha não resolve o problema. Não é a primeira vez que acontecem conflitos", disse Wagner Kronbauer, presidente da entidade. Ele citou conflitos gerados pela madeira ilegal na cidade de Altamira, há sete anos, e mais recentemente em dois outros municípios.
"Há ações contra o desmatamento sempre que existe pressão da mídia, mas os números mostram que essa estratégia não tem dado certo", critica. Como outros especialistas, ele acredita que a alta do preço das commodities foi a responsável pelo aumento recente do desmatamento.
As indústrias cobram do Estado e da União uma política clara de manejo florestal sustentável, a certificação de documentos de propriedade de terras e a possibilidade de investir em reflorestamento.
(
O Globo, 22/02/2008)