O habitat dos morcegos hematófagos responsáveis pela transmissão foi localizado pelos técnicos da Secretaria da Agricultura a aproximadamente 1 quilômetro da propriedade onde um bovino foi encontrado morto
A abertura de um foco de raiva bovina em Muçum, no Vale do Taquari, está mobilizando os técnicos da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Agronegócio e também a prefeitura. Um bovino foi vítima da doença na localidade de 28 de setembro. O primeiro levantamento feito pelos técnicos da Inspetoria Veterinária e Zootécnica (IVZ) local e da Supervisão Regional do Departamento de Produção Animal (DPA) apontou 18 animais com mordeduras de morcegos em nove propriedades localizadas em um raio de até 7 quilômetros do local do incidente.
De acordo com o supervisor regional, Valmor Barros, cerca de 300 animais estão em área de risco e deverão ser vacinados massivamente contra a doença a partir de sexta-feira (22/02). Os 18 animais suspeitos já estão em observação. O habitat dos morcegos hematófagos responsáveis pela transmissão também foi localizado, em uma furna há aproximadamente 1 quilômetro da propriedade. "Na segunda-feira uma equipe de combate e profilaxia da raiva herbívora vai iniciar o trabalho de combate aos morcegos", afirmou Barros.
Perdas econômicas
O último caso de raiva bovina na região foi registrado há cerca de um ano, no município de Bom Retiro do Sul. De acordo com o veterinário Waylton dos Santos Franco, que atua no combate e profilaxia da doença, não existe nenhuma possibilidade do caso confirmado em Muçum ter alguma relação com o evento registrado no Uruguai em outubro de 2007, quando técnicos da secretaria foram auxiliar as autoridades uruguaias no diagnóstico de combate à raiva.
Cerca de cem cabeças de gado teriam sido afetadas pela doença no país vizinho na região da fronteira com o Rio Grande do Sul. "Devido às distâncias e às próprias características geográficas da região, é impossível tratar-se do mesmo foco", afirma Franco.
O veterinário ainda salienta que a raiva bovina é considerada uma doença com perdas econômicas relativamente baixas se comparada com outras zoonoses como a febre aftosa, que impede a comercialização dos animais da área de risco. "A perda se limita ao próprio animal infectado, já que a doença é fatal", avalia. Os demais animais da propriedade que não apresentam mordeduras ou sintomas podem ser comercializados normalmente já que a doença só é transmitida pela mordedura do morcego hematófago.
A duração do foco é, em média, de três meses. "Se não acontecer nenhuma nova morte no prazo de 90 dias, significa que o foco está seguro e pode ser encerrado", explica Franco.
Entenda a doença
A raiva bovina é a causada pelo vírus Lyssavírus, transmitido pela mordida de morcegos hematófagos (que se alimentam de sangue). O vírus existe de forma latente no morcego, mas pode ser ativado por fatores de estresse, como alterações climáticas e no período de reprodução, passando para as glândulas salivares do alimento e sendo inoculado na vítima no momento da mordida.
É a mesma doença apresentada pelos cães, porém, não há motivo para alarme da população local. "Só fica exposta ao vírus a pessoa que tem contato direto com o animal ou o morcego, especialmente secreções", afirma Franco. Essas pessoas devem fazer a vacina anti-rábica.
Os sintomas da enfermidade incluem agitação e agressividade, passando para a paralisia dos membros. A salivação torne-se intensa e o animal fica com olhar perdido. Como a doença é fatal, a morte ocorre de três a cinco dias após o início dos sintomas.
(Ascom Governo do Estado do RS, 21/02/2008)