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crise energética
2008-02-22
A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Argentina e a questão do abastecimento de gás vindo da Bolívia é destaque na imprensa internacional nesta quinta-feira. "A crise energética sul-americana deixou de ser um cenário hipotético para se transformar em ameaça real, diante da qual todos os governos da região estão adotando medidas de urgência para evitar que dentro de poucos meses comecem os cortes massivos de fornecimento de energia. E a tensão política já começa a notar-se", afirma o diário espanhol El País.

O jornal aponta para o convite feito a Evo Morales, de participar de um encontro com os dois presidentes no sábado, como um sinal do agravamento da crise. Brasil e Argentina importam gás da Bolívia - o governo brasileiro importa um volume quase dez vezes maior que a Argentina -, mas o governo boliviano já avisou que não vai poder cumprir os contratos iniciais, a não ser que o Brasil abra mão de parte de seu gás para a Argentina.

"Em privado, representantes brasileiros não escondem o mal-estar pelas pressões que Lula vai receber em Buenos Aires. 'Este ano há uma grande seca no Brasil, o que significa que produzimos menos eletricidade do que o normal. Eles querem que a gente corte, voluntariamente, a energia de nosso povo para evitar problemas para a presidente argentina?', disse uma fonte brasileira a este diário."

O El País ainda aponta que, neste ano, será ainda mais difícil para a Argentina recorrer ao Brasil caso precise de energia, já que o país não terá muitas condições de ajudar, e afirma que Kirchner poderá então recorrer à Venezuela, com quem ela deve assinar um acordo de intercâmbio de energia por alimentos no mês que vem. "E é essa perspectiva, de que a Argentina se jogue ainda mais nos braços da Venezuela, que pode mudar a postura de imobilidade brasileira na negociação do sábado."

Chile
Na Grã-Bretanha, o Financial Times destaca os problemas que o Chile enfrenta por conta da crise entre Brasil, Argentina e Bolívia. Segundo o jornal, o Chile "é o último e vulnerável elo de uma corrente sobrecarregada de fornecimento de gás na região em que políticas populistas seguraram o desenvolvimento das reservas de energia".

"A crise da energia está pesando nas previsões de crescimento econômico do Chile, enquanto o país tenta assegurar sua entrada na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). A expectativa é que a economia cresça 4,6% neste ano, em comparação com 5,2% no ano passado. Maria Olívia Recart, sub-secretária de finanças do Chile, disse este mês que as restrições ao gás podem cortar de 0,5% a 1% do PIB do país."

Segundo o FT, o baixo custo de serviços na Argentina impediu investimentos para aumentar a produção doméstica de gás e o governo vem dependendo de complementos da Bolívia. "Mas a Bolívia fracassou em atrair investimentos estrangeiros para aumentar sua produção desde que enviou tropas para nacionalizar a indústria do gás em 2006 e agora admite que não pode cumprir as ambiciosas metas de exportação - compromissos com a Argentina e com seu outro cliente estrangeiro, o Brasil."

Para o jornal argentino La Nación, "a chegada de Lula se dá em clima de otimismo. O chanceler brasileiro, Celso Amorim, disse aqui que a relação bilateral com a Argentina é 'a mais estratégica' de seu país".

"Por conta disso, ontem, no governo de Cristina Kirchner davam como superadas declarações anteriores de Amorim, em que o ministro havia antecipado que seu país não cederia, a priori, na disputa pelo gás da Bolívia. E que exigiria a mesma divisão, sem ceder parte de seu fluxo à Argentina. Esses comentários haviam gerado mal-estar antes do iminente encontro em Buenos Aires." Segundo o Página 12, também da Argentina, o encontro é "para brindar com caipirinha". O jornal ainda destaca os acordos que devem ser firmados durante a viagem, entre eles, o que "busca impulsionar a fabricação conjunta de armamento para defesa e exportação."

(BBC, FGV, 21/02/2008)


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