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passivos do agronegócio agricultura familiar soja
2008-02-22
Porto Alegre (RS) - A cotação da soja, que bateu recorde no mercado internacional na quarta-feira (20/02), deve trazer apenas benefícios instantâneos ao setor. O preço do chamado bushel, medida em que o grão é vendido no exterior e que corresponde a 27 kg, alcançou R$ 24,30 na Bolsa de Valores de Chicago. No Brasil, a estimativa é de que o preço da saca chegue em torno dos R$ 50,00 o que animou os produtores da oleaginosa.

Esses benefícios, porém, devem atingir somente o agronegócio e, ainda, por um tempo determinado. O engenheiro agrônomo Lino de Davi avalia que apesar do alto custo da lavoura reduzir o lucro dos agricultores, os ganhos ainda serão grandes. No entanto, alerta que o preço do grão é bastante variável no mercado internacional e que pode voltar a cair. "É verdade que o custo da produção elevou nos últimos anos. O monopólio de insumos, como adubo e agrotóxico, aumentou muito no Brasil no ano passado e neste ano novamente. No caso da soja tansgênica, o glifosato aumentou muito de preço e na quantidade em ser aplicado. No início da soja transgênica, aplicava 2,5l e agora já aplicam 4,5l, até 5l, então aumentou muito o custo. Mas esse preço significa engordar de forma significativa o bolso do agronegócio", diz.

Já para os camponeses que adotam a monocultura da soja, Lino argumenta que a elevação do preço somente servirá para iludir o agricultor. No imediato o preço deve animar o produtor, levando inclusive a aumentar a área plantada do grão. No entanto, os benefícios devem reduzir ao longo do tempo. "A médio prazo é uma desgraça para a agricultura familiar. Porque mais uma vez se cria uma falsa ilusão de que os pequenos podem viver de monocultura. No início, até pode trazer benefícios. Mas a médio prazo, como o poder de acumulação dos grandes é muito maior, aumenta a influência do agronegócio sobre os pequenos, na relação política, fragilizando a agricultura familiar".

Outra conseqüência negativa destacada por Lino é o aumento da dependência dos agricultores em relação às multinacionais. Tanto o agronegócio quanto a agricultora camponesa ficarão ainda mais reféns do monopólio, que vai desde a comercialização do grão até a dos insumos químicos. Outra tendência a ser seguida, avalia o engenheiro, é o aumento das fusões e da compra das pequenas empresas pelas grandes, a fim de se tornarem mais competitivas no mercado.

Entre os principais fatores para o aumento do preço da soja estão o consumo de biodiesel em escala mundial e o maior consumo do grão em países em desenvolvimento como a Índia, China, Rússia e demais países europeus.

(Por Raquel Casiraghi, Agencia Chasque, 21/02/2008)

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