Poucas horas antes da chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Argentina, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, garantiu que há disposição do governo brasileiro em ajudar o país vizinho a superar uma eventual crise energética, desde que isso não represente risco de desabastecimento no Brasil.
“O Brasil não vai tomar uma posição que implique um risco de apagão”, afirmou nesta quinta-feira (21/02), em entrevista coletiva.
O ministro frisou que o Brasil não pode se comprometer “de antemão” a ceder gás para a Argentina, pois não sabe qual será a necessidade brasileira quando o inverno argentino chegar.
"Nem sequer os argentinos estão pedindo isso”, afirmou. “A gente não sabe quão severo será o inverno aqui e como estarão as hidrelétricas no Brasil".
O assunto será discutido pelos presidentes do Brasil, da Bolívia, Evo Morales, e da Argentina, Cristina Kirchner, em reunião a ser realizada neste sábado (23/02) na capital argentina.
A Bolívia produz em torno de 35 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia, mas os contratos de fornecimento chegam a 46 milhões. O consumo interno boliviano é de cerca de 6 milhões de metros cúbicos.
Só para o Brasil, cliente preferncial, devem ser encaminhados diariamente até 30 milhões de metros cúbicos do combustível.
O contrato com a Argentina prevê um mínimo de 4,6 milhões de metros cúbicos ao dia em 2008 e 2009. E 27,7 milhões a partir de 2010, com a conclusão do futuro Gasoduto do Nordeste Argentino.
Historicamente, o Brasil usa entre 27 e 29 milhões de metros cúbicos por dia dos trinta a que tem direito.
Incapaz de cumprir com os contratos firmados, a Bolívia propõe que o Brasil abra mão de parte desta cota em favor da Argentina, como fez em 2007. Mas o governo brasileiro parece mais disposto em fornecer outro tipo de energia, como a elétrica.
Amorim lembrou que, no ano passado, a Argentina pediu quatro milhões de metros cúbicos de gás por dia ao Brasil, mas o governo brasileiro abriu mão de apenas um milhão. Para compensar, forneceu energia elétrica ao parceiro do Mercosul.
Solução semelhante poderia ser adotada este ano. O Brasil, no entanto, não está disposto a flexibilizar o Tratado de Itaipu e permitir que o Paraguai venda à Argentina a energia a que tem direito e que tem não utiliza.
Essa é uma demanda antiga do Paraguai, mas o Brasil insiste em fazer valer o contrato pelo qual um país é obrigado a vender ao outro energia não utilizada por preço de custo.
“O Brasil precisa dessa energia”, ressaltou o ministro, admitindo que não sabe se o Brasil forneceu energia de Itaipu à Argentina em 2007.
(Por Mylena Fiori, Agência Brasil, 21/02/2008)