País teve 22 mortes em 50 dias, ante 46 em todo o ano passado; La Niña é a causa do aumento, diz especialistaNos primeiros 50 dias do ano, 22 pessoas morreram em virtude de raios no País. Apurado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o número já supera o balanço do primeiro trimestre de 2007, quando foram registradas 18 mortes - o ano fechou com 46 casos. No Estado de São Paulo, houve aumento de 32% nas descargas elétricas. O Inpe atribui o aumento ao fenômeno climático La Niña.
Só no mês passado foram detectadas 108.675 descargas atmosféricas no Estado, ante 81.920 em janeiro de 2007. "Acreditamos que, até o fim do verão, a incidência de raios no Sudeste tenha aumento de 50%", disse Osmar Pinto Junior, pesquisador do Inpe e considerado a maior autoridade em raios do País.
O pesquisador explicou o papel do La Niña nesse processo. "O resfriamento das águas do Oceano Pacífico altera a circulação dos ventos globalmente e favorece a formação de tempestades no Sudeste." Desde o começo do ano, caíram cerca de 207 mil raios no Sudeste, ante 152 mil no mesmo período de 2007 (alta de 36%). "Outro fator é a própria previsão do tempo, que indica temperaturas pouco acima da média histórica, aliadas a precipitações."
Das 22 mortes deste ano, 11 ocorreram no Estado. De acordo com Pinto, o número é semelhante ao de 2001, quando também houve influência do La Niña. "Naquele ano foram 73 mortes registradas."
O Brasil já é campeão mundial na incidência de raios, com cerca de 50 milhões de descargas elétricas por ano. Zaire e Estados Unidos são o segundo e terceiro colocados. O País lidera o ranking apesar de o Inpe fazer o levantamento apenas em nove Estados - Regiões Sudeste e Sul, mais Mato Grosso do Sul e Goiás. A zona leste de São Paulo, cidades do ABC e as regiões de Campinas e do Vale do Paraíba são as campeãs em incidência de raios no Estado.
Na Grande São Paulo, os raios se concentram em áreas sujeitas a chuvas fortes provocadas por massas de ar vindas do litoral sul. "Essa massa de ar frio que sobe do litoral encontra uma outra de ar quente provocada pela calor, impermeabilização do solo, prédios altos e poluição", disse Pinto. São Caetano, no ABC, por exemplo, é a campeã nacional em incidência de raios. "A média é grande também porque a área do município é pequena." Esse quadro também explica por que a zona leste, vizinha do ABC, é muito atingida pelos raios. "Penha, Itaquera e Vila Prudente são bairros com alta incidência de raios, cerca de 11 por quilômetro quadrado por ano."
(Simone Menocchi,
O Estado de São Paulo, 21/02/2008)