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2008-02-21
Combinação de alta biodiversidade e população densa é favorável a doenças emergentes.

Mapa feito por pesquisadores dá pistas sobre locais que mais correm risco de surtos.

Esqueça o atual surto de febre amarela: se a história servir de guia, o Brasil poderá enfrentar epidemias de doenças desconhecidas e perigosas, oriundas principalmente de animais selvagens e de insetos e outros invertebrados que sugam sangue humano. Esse sinal amarelo vem de um mapa global das chamadas doenças emergentes, organizado por pesquisadores nos EUA e no Reino Unido, o qual também aponta a América Central, a África tropical e o sul da Ásia como fontes futuras dessas ameaças à saúde humana.

O trabalho, publicado na edição desta semana da revista científica britânica "Nature", tem um olho voltado para o futuro e outro para o passado. Os cientistas recolheram dados sobre 335 surtos de doenças infecciosas emergentes, registrados ao longo dos últimos 60 anos. Depois, colocaram as epidemias no mapa, usando uma série de variáveis para estimar por que elas surgiram onde surgiram e, mais importante, para tentar prever onde eventos parecidos vão ocorrer de novo.

Para merecer o título de emergente, uma moléstia precisa satisfazer ao menos um dos seguintes requisitos: ser causada por microrganismos ou vírus que acabaram de evoluir (como a atual tuberculose resistente a múltiplas drogas), que passaram a infectar humanos faz pouco tempo (caso da Aids ou da Sars) ou que provavelmente já afetavam pessoas, mas só agora produziram um número alarmante de doentes.

Selvagem

O que a história mostra é uma predominância clara de doenças emergentes oriundas de micróbios ou vírus que originalmente afetavam animais selvagens. Pouco mais de 60% das moléstias caem nessa categoria, seguidas pelas doenças trazidas por invertebrados (22,8% do total). E aí que, literalmente, o bicho pega para o Brasil.

"As ameaças à América do Sul têm a ver com as áreas onde as pessoas e a vida selvagem estão concentradas em espaços próximos. Isso é um problema especialmente onde o desmatamento, o desenvolvimento, mudanças no uso do solo e outras mudanças ambientais estão ocorrendo a florestas tropicais com muita vida selvagem", explicou ao G1 um dos autores do estudo, Peter Daszak, do Consórcio para a Medicina da Conservação, em Nova York.

Traduzindo: expandir a população nas áreas de fronteira agrícola ou nas vizinhanças das últimas florestas intactas do Sudeste pode ser um péssimo negócio para a saúde humana. E a destruição desses habitats pode, ao mesmo tempo, desalojar os animais que são reservatórios de doenças e trazê-los para perto dos seres humanos, com conseqüências previsíveis e nada animadoras. "Na África, foi a caça indiscriminada e o comércio de carnes de macacos que trouxe a Aids. No Peru, o desmatamento facilitou a chegada de mosquitos transmissores de doenças", exemplifica Daszak.

Os pesquisadores também verificaram que novas ou velhas bactérias são as principais responsáveis por doenças emergentes -- quase 55% do total histórico. Em segundo lugar vêm os vírus, com 25% dos episódios registrados. No caso de regiões tropicais, no entanto, o mais provável é que causadores de doenças totalmente desconhecidos apareçam daqui para a frente.

Futuro esperançoso
Para o pesquisador, apesar dos riscos, as oportunidades para prevenir desastres ligados a essas doenças nunca foram tão boas. Daszak diz que a melhor abordagem é o controle das atividades humanas nas áreas selvagens -- preservando os ambientes naturais que servem de reservatório para as doenças, diminui muito o risco de que elas cheguem até hospedeiros humanos. "O futuro claramente está nas nossas mãos", conclui.

(Reinaldo José Lopes, G1, 21/02/2008)




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