Como foi com a unidade da Ford, novamente Rio Grande do Sul e Bahia disputam um grande investimento. Até o mês de abril a empresa petroquímica Braskem deve decidir em qual dos dois estados instalará sua planta de produção de polietileno "verde", gerado a partir do etanol da cana-de-açúcar.
O presidente da companhia, José Carlos Grubisich, informa que entre os fatores que serão determinantes para a escolha estão as questões tributárias e logísticas. A definição do local da unidade, inicialmente, estava prevista para o final do ano passado. No entanto, o redimensionamento do projeto, aumentando sua proporção para 200 mil toneladas ao ano, fez com que atrasasse a divulgação de onde e de quanto será o investimento na iniciativa.
Embora as questões tributárias sejam apontadas como fundamentais para a escolha do destino do investimento, o Estado ainda não discutiu com a empresa uma possível concessão de incentivos fiscais, de acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria de Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais (Sedai). O órgão, no entanto, já vem mantendo conversações com a companhia sobre o projeto. A expectativa é de as negociações se intensifiquem nas próximas semanas.
O planejamento é de que o empreendimento inicie sua operação a partir de 2010. O projeto, segundo Grubisich, terá um perfil exportador. Quanto à questão logística, a Bahia leva a vantagem de a Região Nordeste ser maior produtora de cana-de-açúcar que o Rio Grande do Sul. Se a planta da Braskem for construída em território gaúcho, o álcool para abastecer a unidade, inicialmente, terá que vir da Região Sudeste. A favor dos gaúchos, o fato de que a companhia já opera sua unidade-piloto de polietileno verde em Triunfo, com capacidade de 12 toneladas ao ano. Sobre a viabilidade técnica de implantação do empreendimento, Grubisich informa que os pólos do Sul e do Nordeste possuem condições semelhantes.
Ainda no Pólo Petroquímico de Triunfo, a Braskem pretende aumentar a geração de vapor e de energia da sua controlada, Copesul. Uma das metas é diminuir a dependência do grupo quanto aos fornecedores externos de energia. A Copesul, que pode gerar hoje cerca de 62 MW, adicionará em torno de 45 MW em sua capacidade de produção de energia elétrica. Serão investidos em torno de R$ 200 milhões no projeto que utilizará como combustível o carvão. Mesmo assim, as unidades da Braskem no Pólo gaúcho precisarão adquirir mais 100 MW de outros geradores.
A Braskem também estuda a expansão das capacidades de produção de polietileno e polipropileno no Estado. Na manhã de ontem, em São Paulo, Grubisich apresentou os resultados econômico-financeiros da Braskem em 2007.
A Braskem alcançou no ano passado seu recorde de produção de resinas, com 2,8 milhões de toneladas. Atualmente, a Braskem é a terceira petroquímica das Américas, em capacidade produção. As vendas de resinas termoplásticas da empresa no mercado doméstico tiveram um crescimento médio de 8% em relação a 2006, com destaque para um aumento de 16% para o PVC.
A receita bruta consolidada da Braskem foi de R$ 23,9 bilhões em 2007, com crescimento de 11% sobre 2006. Já a receita líquida consolidada foi de R$ 19 bilhões em 2007. Esse desempenho, segundo a companhia, traduz os maiores volumes vendidos no mercado doméstico e o crescimento de 12% nas exportações, que alcançaram US$ 2,3 bilhões, refletindo uma melhor precificação dos produtos proporcionada pela comercialização direta aos clientes com operações próprias de distribuição na Argentina, Estados Unidos e Europa.
A Braskem ampliou ainda mais sua capacidade de geração de caixa com um Ebitda de R$ 3,2 bilhões em 2007, um crescimento de 5% na comparação com 2006. O lucro líquido alcançou R$ 568 milhões, cerca de quatro vezes maior que o lucro do ano anterior. Em 2007, os investimentos de capital da Braskem totalizaram R$ 1,3 bilhão (sem contar os R$ 2,4 bilhões utilizados na aquisição dos ativos petroquímicos do grupo Ipiranga). Em torno de R$ 300 milhões foram destinados à Petroquímica Paulínia, cuja entrada em operação está programada para março. A unidade adicionará 350 mil toneladas anuais de polipropileno à capacidade de produção da Braskem.
A companhia também investirá cerca de R$ 100 milhões na conversão de suas unidades em Camaçari de MTBE, um aditivo da gasolina, para ETBE. A conversão já foi feita nas unidades da Copesul, que recentemente exportou sua primeira carga de ETBE para o Japão. Com a alteração nas plantas da Bahia, que devem ser concluídas em 2009, a Braskem terá uma capacidade para produzir até 300 mil toneladas do produto.
Para 2008, está previsto um investimento de cerca de R$ 1,3 bilhão por parte da Braskem, o que inclui as paradas de manutenção das centrais petroquímicas Copesul (abril) e Camaçari (maio). Com a interrupção, a Copesul deve reduzir em cerca de 50 mil toneladas sua produção de eteno neste ano.
(Por Jefferson Klein, JC-RS, 21/02/2008)