O Sintonia da Terra desta quinta (21.02) entra no debate sobre biocombustíveis. O entusiasmo em torno do tema está demandando uma reflexão importante: reduzir a emissão de poluentes no escapamento dos carros só é válido se a produção de energia for feita de forma sustentável. A inclinação para a expansão das monoculturas de cana-de-açúcar para produção de etanol e do agroenegócio da energia em si fizeram soar o alerta.
Segundo Lúcia Ortiz, coordenadora Geral do Núcleo Amigos da Terra Brasil (NAT/Brasil), o modelo do agronegócio, além de petrodependente na sua forma de produção e logística de distribuição, em escala planetária, está associado a impactos ambientais e sociais que, em última análise, inviabilizam a produção e distribuição descentralizada de alimentos e de energia.
Apesar de mais eficiente e saudável ao ambiente, a produção descentralizada não tem sido a regra geral. Há exemplos concretos, entretanto, que podem auxiliar na mudança de rumos. Na publicação "Construindo a soberania energética e alimentar", o NAT/BRASIL propõe o debate sobre o modelo energético e mostra três experiências autônomas de produção limpa de biocombustíveis no Rio Grande do Sul. São projetos gestados por atores locais e que trabalham na ótica da agroecologia.
As cooperativas COOPERCANA, de Porto Xavier, CRERAL, de Erechim e COOPERBIO, de Palmeira das Missões, atuam pela sustentabilidade na agricultura familiar, com a melhora da produtividade e redução de custos de transporte e distribuição, através do uso local dos produtos e subprodutos da cana-de-açúcar cultivada em pequena escala, colhida sem o uso de queimadas e processada em microdestilarias.
- Todos estes exemplos, ainda que viabilizados a partir de realidades bem particulares, em termos de localização geográfica, histórico de ocupação territorial, estrutura fundiária, surgimento e organização dos movimentos sociais, mostram que a produção, assim como a gestão e decisão sobre as políticas de energia, podem e devem ser integradas na construção da sustentabilidade e da soberania dos atores locais - afirma Lúcia Ortiz, que também é integra a coordenação do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
O Sintonia da Terra é uma parceria do Núcleo de EcoJornalistas do Rio Grande do Sul, da Rádio da Universidade e da EcoAgência Solidária de Notícias Ambientais. O programa vai ao ar nas manhãs de quinta-feira, às 10h05, pelos 1080 AM da Rádio da UFRGS. Pode ser ouvido em tempo real através do site www.ufrgs.br/radio.
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EcoAgência, 20/02/2008)