Fonte de renda para pescadores, cartão-postal para moradores e turistas, movimento incomum na baía da Babitonga. A embarcação da empresa de navegação Norsul, encalhada há 23 dias num banco de areia na entrada do porto de São Francisco do Sul, quase de ponta-cabeça, mudou a rotina na cidade. Primeiro, o salvamento difícil dos 12 tripulantes e do prático responsável pela manobra. Depois, o óleo que vazou dos tanques e chegou às praias. Tem ainda um inquérito – que apura as causas do acidente – e a ação civil contra os danos ecológicos que espera julgamento pela Justiça Federal. Há também fatos curiosos. Confira abaixo alguns deles.
Encalhado
O comboio não afundou porque está encostado num banco de areia, principalmente a parte da frente da barcaça. O empurrador, embarcação da parte de trás, onde ficava a tripulação, é o que está mais abaixo da linha de água. A profundidade do local é de nove a dez metros.
Ida à cozinha
Na noite do dia 30 de janeiro, um dos tripulantes, o chefe-de-máquinas Avelino Pereira, ficou preso no empurrador do comboio. Após fazer sinais de luz para os colegas salvos pela lancha da praticagem, ele conseguiu ir até a cozinha. Lá, achou a lima de afiar facas e o martelo, que usou para quebrar uma das vigias e se salvar. Os outros tripulantes haviam se jogado ao mar quando foi perdido o controle da embarcação.
Lembrança
Perto do local do acidente, ocorrido a 18 quilômetros do canal de acesso ao porto de São Francisco, encalhou há 11 anos um outro navio de carga. O Nedlloyd Recife teve problemas por causa do mau tempo e com o leme e encalhou a quatro quilômetros da Enseada. Teve de ser retirado aos pedaços e vendido como sucata. Antes disso, a carga de 700 contêineres foi saqueada e vendida pela cidade.
Transporte
O sistema de transporte de carga na costa brasileira por meio de barcaças foi desenvolvido a pedido da Norsul. Ela é a única empresa que navega por mar com esse tipo de embarcação. Os primeiros comboios da Norsul carregavam madeira do Sul da Bahia ao Norte do Espírito Santo.
Resgate
Para remover a embarcação, serão necessários de quatro a cinco meses. O delicado trabalho de salvatagem está a cargo de duas empresas estrangeiras, a Smit Tag e a Sviwtz.
Pescadores
Para ajudar no trabalho de contenção de óleo, pescadores têm ganhado de R$ 600,00 a R$ 1 mil diários. A tarefa é puxar as tiras de material absorvente nas áreas de fora da barreira. Há cerca de 40 barcos de pesca contratados.
Pintura
A companhia de navegação Norsul, do Rio de Janeiro, passou tinta por cima do letreiro com o seu nome, escrito no comboio em letras maiúsculas brancas e que podia ser visto de ponta-cabeça nos dias após o acidente.
Tinha seguro
O comboio transportava cerca de 340 bobinas de aço, num total de mais de nove mil toneladas. A carga é da laminadora de aço Vega do Sul, empresa do grupo siderúrgico indiano ArcelorMittal instalada em São Francisco do Sul. As bobinas não podem ser reutilizadas, mas estavam cobertas por seguro.
As etapas
A primeira etapa da retirada é a remoção do óleo dos tanques, que está em curso. Depois, sairá a carga que ainda está no interior da barcaça. A última etapa, da retirada do empurrador e da barcaça, vai precisar de grandes equipamentos flutuantes para a rebocagem.
(Camille Cardoso,
A Notícia, 21/02/2008)
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