Apesar dos entraves ambientais que paralisaram os projetos hidrelétricos no Paraná, a Gerdau S/A quer gerar energia no estado a partir do início de 2011. Na última sexta-feira, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) transferiu para o grupo gaúcho a concessão para a construção e operação do complexo hidrelétrico São João-Cachoeirinha, que pertencia à empresa paulista Enterpa Energia S/A. As negociações para a compra da concessão começaram há oito meses.
A Gerdau não informou o valor da transação, mas diz que vai investir US$ 173 milhões (cerca de R$ 300 milhões) na construção das usinas. Planejado para o Rio Chopim, o complexo será formado por duas hidrelétricas de pequeno porte que somam 105 megawatts (MW) – São João (60 MW) e Cachoeirinha (45 MW) –, potência capaz de abastecer uma cidade com aproximadamente 300 mil habitantes.
Os planos da Gerdau, no entanto, já estão atrasados. Em junho de 2007, quando comunicou o mercado sobre as negociações, a empresa informou que pretendia construir o complexo a partir de janeiro. Como só recebeu a concessão agora, dificilmente dará início às obras antes de março.
Há outro detalhe, que não depende da agilidade da Aneel ou da Gerdau. À exceção de algumas usinas pleiteadas pela estatal Copel, os projetos hidrelétricos do Paraná estão com seus processos de licenciamento ambiental parados há quase cinco anos. Sob o pretexto de concluir o Zoneamento Ecológico-Econômico do estado, o governo estadual interrompeu as análises, o que prejudicou empresas privadas que já haviam recebido a outorga (autorização) da Aneel para a construir e operar usinas.
A própria Enterpa detinha a concessão para construir o complexo São João-Cachoeirinha desde abril de 2002. Como o licenciamento foi interrompido no ano seguinte, a empresa engavetou o projeto. Representante das companhias privadas, a Associação Paranaense de Geradores de Energia (APGE) estima que haja 35 projetos de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) à espera da liberação do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), responsável pelo licenciamento.
Até mesmo a usina de Mauá, hidrelétrica de médio porte (362 MW) que será construída por um consórcio formado por duas estatais (Copel e Eletrosul), tem dificuldade para sair do papel. A Justiça Federal de Londrina determinou que a usina só poderá ser erguida depois de concluída uma avaliação ambiental integrada, que englobe toda a bacia do Rio Tibagi. As obras, antes previstas para novembro, não têm data para começar.
PerfilSe concretizado, o complexo São João-Cachoeirinha será o primeiro empreendimento de geração de energia da Gerdau no Paraná – hoje, a empresa tem uma siderúrgica em Araucária e uma unidade de corte e dobra de aço em Curitiba. No setor elétrico, opera a usina de Dona Francisca, no Rio Grande do Sul (125 MW), cuja energia é vendida ao mercado regulado. A companhia também vai construir duas hidrelétricas com potência total de 155 MW, em Aparecida de Goiás (GO), que vão fornecer energia para a própria empresa.
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Gazeta do Povo, 21/02/2008)