Mariana Rios Impedidos de plantar, comercializar o produto do cultivo ou mesmo consumir água de cacimba, moradores do Parque Real Verde mantêm o protesto na porta do Comitê de Fomento Industrial de Camaçari (Cofic) – que representa 54 empresas do Poló Petroquímico. Há um ano e oito meses, o despejo clandestino de produtos químicos na localidade mudou a rotina das 59 famílias do condomínio, que aguardam uma contrapartida financeira para os prejuízos, além de atendimento médico multidisciplinar para os moradores.
Ontem, continuou o revezamento, iniciado na manhã de segunda-feira: uma parte dos moradores retornou para a Estrada da Cascalheira, onde fica o condomínio, para descansar, trazer água e mantimentos, enquanto outra parte manteve a mobilização. O Ministério Público Estadual (MPE) entrou em janeiro com uma ação civil pública na 1ª Vara Cível, contra a prefeitura de Camaçari, que defende-se, listando uma série de ações para atender à comunidade. No entanto, os manifestantes afirmam que por conta da inércia do poder público municipal, estão pressionando as empresas.
“Falaram da instalação de um posto médico móvel na localidade com equipe médica. Na verdade, não tivemos nada disso e apenas 111 dos 277 moradores fizeram exames de sangue. Rejeitamos a proposta de desmobilizar a comunidade. Vamos continuar por tempo indeterminado e levaremos nossa manifestação para a porta do fórum para que o Judiciário se posicione”, afirmou o líder comunitário Arailton Rodrigues.
O superintendente de Desenvolvimento e Comunicação do Cofic, Érico Oliveira, reafirmou que o produto despejado na localidade de forma clandestina não é produzido na cidade – embora na investigação conduzida pelo MPE, empresas do Pólo Petroquímico de Camaçari estejam entre as suspeitas.
“Os organoclorados Endosulfam I e II (usados na composição de pesticidas) não têm origem no Pólo Petroquímico de Camaçari. Sem dúvida, foi um ato criminoso. Demos todo o suporte técnico solicitado e a prefeitura assumiu as providências na área social. Não vamos assumir uma responsabilidade que não é nossa, mas nos dispusemos a intermediar a interlocução com o município e oferecer suporte técnico”, explicou Érico.
O MPE exige que além de prestar atendimento médico urgente às vítimas do crime ambiental, o município pague R$ 5 milhões de indenização aos moradores do Loteamento Parque Real Serra Verde. “O município de Camaçari assumiu a gestão plena da saúde há muitos anos. E nós observamos que ele não tem prestado atenção devida a estas pessoas, que além de traumas decorrentes da poluição estão sofrendo problemas psicológicos com toda esta situação”, afirma o promotor Luciano Taques Ghignoe.
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Correio da Bahia, 20/02/2008)