Em 70 dos 78 municípios capixabas agricultores já estão plantando eucalipto como parte do Programa Produtor Florestal da Aracruz Celulose. Os plantios monoculturais empobrecem a terra, têm consumo de grandes quantidades de água, e provocam prejuízos financeiros aos pequenos produtores rurais: a agricultura rende 25 vezes mais do que os plantios de eucalipto.
A Aracruz Celulose lembra que o Programa Produtor Florestal foi criado em 1990. Em seu site informa que “atualmente abrange mais de 3 mil contratos e alcança 159 municípios, sendo 70 do Espírito Santo, 39 de Minas Gerais, 14 da Bahia, 28 do Rio Grande do Sul e 8 do Rio de Janeiro”.
A empresa informa ainda que o Programa Produtor Florestal “conta com cerca de 89 mil hectares contratados, dos quais mais de 83 mil hectares já plantados com eucalipto, com a área média por contrato de 24,4 hectares”.
Mesmo com as grandes extensões de terras envolvidas nos plantios de eucalipto o programa gerou movimentou apenas “cerca de R$ 400 milhões em compra de madeira, insumos, adiantamentos financeiros e impostos”. Gera somente cerca de cinco mil empregos diretos e indiretos no campo.
Os contratos colocam as propriedades praticamente a serviço da Aracruz Celulose. O preço da venda da madeira é determinado pela própria empresa. Os produtores podem se reservar e vender apenas 3,5% da produção de eucalipto. Seus contratos os limitam a ser donos dos resíduos deixados no solo durante a colheita (cascas, galhos etc.), que podem vender para padarias, olarias, produtores de carvão, escolas e outros estabelecimentos.
A Aracruz Celulose escolheu o Brasil para plantar eucaliptos pela exuberância do clima e do solo. O eucalipto é australiano e foi adaptado ao clima tropical do Sudeste brasileiro: “o eucalipto tem uma produtividade onze vezes superior às espécies de países de clima frio - tradicionais produtores de madeira e celulose”, diz a empresa. O eucalipto tem seu ciclo produtivo de 7 anos para celulose, e 15 anos para madeira. As espécies de clima frio têm ciclo produtivo de 70 a 80 anos.
Empresa foi implantada a ferro e fogoA Aracruz Celulose foi criada por sugestão do empresário norueguês Erling Sven Lorentzen, casado com a princesa Ragnhild, irmã do rei Harald V, aos governos da ditadura militar. O autoritário governo federal e os governos estaduais atenderam a tudo o que foi idealizado e pedido pelos noruegueses. Na prática, a empresa foi instalada com dinheiro brasileiro. Depois seu comando e os lucros foram entregues a Erling Sven Lorentzen.
Para pressionar os negros a deixar suas terras, a Aracruz Celulose usou como seu principal testa-de-ferro o tenente Merçon, do Exército. No máximo, o militar consentia em pagar valores irrisórios aos que resistiam. Os negros então foram forçados a abandonar cerca de 50 mil hectares em todo o Estado em favor da empresa. Vieram depois os plantios de eucalipto e a destruição ambiental em toda a área.
Já os índios foram pressionados por um dos maiores pistoleiros da história do Espírito Santo, o major PM Orlando Cavalcante, a serviço da Aracruz Celulose. No total os índios perderam para a empresa cerca de 40 mil hectares de terras das quais o próprio governo federal reconhece como terras indígenas 18.070 hectares.
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 19/02/2008)