O empresário Fernando Zafonato, presidente do SINDIFLORA, entidade que representa o setor de base florestal (mais conhecido como setor madeireiro), e congrega os municípios de Matupá, Guarantã, Peixoto, Terra Nova, Novo Mundo e Nova Guarita, cedeu entrevista ao nosso site falando sobre o setor:
Qual a missão do SINDIFLORA?
Representar, coordenar e proteger os interesses da categoria, seja na iniciativa privada, seja junto aos órgãos públicos, desenvolvendo projetos que dêem sustentabilidade ao setor.
O que vem a ser sustentabilidade?
No nosso caso significa extrair madeira da floresta através de projetos de manejo. Desta forma extraem-se apenas as arvores maduras, mantendo 95% da floresta em pé, para que se regenere rapidamente, gerando assim qualidade de vida para as pessoas e comunidades, e oportunidades para as gerações futuras. Também podemos criar sustentabilidade plantando árvores, ou seja, reflorestando e adensando a as matas.
Quando você assumiu a presidência do SINDIFLORA?
HÁ cerca de dois anos, quando o setor passava por muitas dificuldades. Foi desenvolvida a operação "Curupira" e o segmento de base florestal se encontrava completamente desorganizado. Neste período temos nos dedicado às principais urgências, ou seja, cuidar dos entraves burocráticos que atravancam o setor, e ainda reorganizar o sindicato junto ao Ministério do Trabalho.
Da operação curupira para cá o que mudou?
A gestão ambiental que até então era coordenada pelo IBAMA um órgão federal foi transferida para a SEMA- Secretaria do Meio Ambiente do estado. As mudanças foram profundas, porém altamente positivas para nosso segmento.
Quais foram as principais mudanças?
As guias de transporte de madeira que antes eram de papel e facilmente adulteradas passaram a se emitiras on-line, isto é, via internet num sistema de conta corrente. Este processo praticamente acabou com as fraudes que prejudicavam o setor. Além disso, pela gestão se dar a nível estadual, os sindicatos têm acesso direto ao responsável, no caso o Secretário de meio ambiente.
Em que isso ajuda?
Antes o IBAMA baixava as normas sobre nossas cabeças e quando queríamos reclamar ou solicitar mudanças éramos empurrados de escalão em escalão do governo federal, sendo necessário muitas vezes chegar até à Ministra do Meio Ambiente, desafio este quase impossível. Agora temos reuniões mensais com o secretario de Meio Ambiente Luiz Henrique, que tem tratado a todos com muito respeito e seguido a legislação à risca.
O que é decidido nestas reuniões?
Normalmente são questões técnicas para dar mais agilidade. Ouvimos o que o empresário quer e levamos para a mesa de negociação. O sistema que o estado do Mato Grosso introduziu é algo completamente novo, fato este que gerou muito trabalho até ficar completamente pronto. Além disso, a legislação ambiental é muito complexa, emperrando os processos produtivos com altos índices de burocracia.
Quais são as perspectivas para o setor madeireiro?
Vejo o setor de base florestal com bons olhos. A forte pressão ambiental e a legislação vigente forçam os proprietários rurais a manter grandes extensões de florestas em pé. A única forma de gerar riqueza neste caso é fazendo planos de manejo florestal. Isto vai gerar matéria prima legal para as indústrias e renda para o proprietário rural.
Mas as empresas estão demorando em se reorganizar?
De fato, o cenário anterior que se extraia madeira sem muito zelo pelo meio ambiente não voltará mais. Aqueles que perceberam as mudanças e agiram rapidamente fazendo projetos que asseguram produção com preservação ambiental largaram na frente. A sobrecarga de trabalho, o excesso de zelo e a burocracia mantêm os órgãos ambientais travados, o que impede o madeireiro de liberar seus projetos para trabalhar. Mas aos poucos a atividade vai voltando e o empresário poderá trabalhar com mais dignidade.
Como você vê a questão ambiental?
O nome Brasil veio de uma árvore, isto mostra que a questão ambiental sempre esteve em nossas vidas. A questão é que agora os cientistas estão dizendo que ou nós nos preocupamos mais com a natureza ou ela vai se revoltar contra nos. Também existe uma forte pressão vinda da Europa, continente que derrubou quase todas as suas florestas e agora tenta nos impor uma moral que não cumpriram. Penso que não podemos radicalizar a questão. Devem-se achar alternativas sempre levando em conta as pessoas que aqui estão e as gerações futuras que merecem ter as mesmas oportunidades que nós.
Como a indústria madeireira pode ajudar neste processo?
A indústria de base florestal sempre contribuiu com o desenvolvimento da região. Foi a primeira a gerar empregos e também é a primeira a se adequar às novas regras ambientais. Os setores da pecuária e agricultura também vão passar por isso e nós estamos aqui prontos para ajudar. É possível gerar riqueza também nas áreas que a lei diz que a floresta não pede ser derrubada. Todo esse conhecimento adquirido a duras penas, enfrentando operações que pararam o setor e impuseram fortes crises, pode e será dividido com outros setores da economia, proporcionando assim o crescimento do nosso estado, preservando o meio-ambiente e gerando qualidade de vida para as pessoas que aqui vivem.
Como você vê as recentes denuncias da Ministra Marina Silva alegando que os estados da Amazônia em especial o Mato Grosso voltaram a ter alto índice de derrubadas ilegais da floresta?
O Governo Federal foi no mínimo precipitado ao divulgar números sobre o desmatamento sem checar se de fato eram verídicos. A reação do Governador Blairo Magi foi forte e a Ministra veio conferir em loco os fatos.
Deu para sentir claramente que o cenário mudou, por um lado o Governo Federal mostrando que não está para brincadeira na área ambiental e o Governo Estadual reagindo à altura mostrando que esta se esforçando e merece respeito. A portaria que bloqueia praticamente todas as atividades econômicas dos principais municípios com alto índice de desmatamento ilegal mostra que se alguns forrem irresponsáveis todos pagaremos juntos. Por outro lado tem muita gente ganhando dinheiro pregando a catástrofe ambiental.
Como assim?
É preciso separar o joio do trigo, mas a criação de ONGs ambientalista virou uma indústria, e estes tem de pregar o pânico para que as fontes de recursos não cessem. Este dinheiro vem principalmente dos países desenvolvidos que fazem forte preção sobre os governantes brasileiros.
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A Notícia Digital, 18/02/2008)