Os desafios para o desenvolvimento de redes de transporte urbano sustentáveis crescem no mesmo ritmo em que a venda de automóveis próprios se expande, impulsionada por um círculo vicioso originado na ineficiência nos sistema público. “O transporte acaba dando forma à cidade, por isso temos que pensar na forma que queremos dar a este espaço”, afirma a diretora do Centro de Transportes Sustentáveis (CTS) do México, Adriana Lobo.
Dados do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC) apontam que o setor de transportes é responsável por 23% das emissões de gases do efeito estufa e 70% da poluição urbana. No entanto, apenas 8% da população é proprietária da frota total mundial, que representa hoje cerca de 600 milhões de veículos. “As pessoas continuam sonhando em comprar um carro. Se nos Estados Unidos temos quase 800 automóveis para cada mil pessoas, imagine projetarmos isso para todo o planeta”, comentou o diretor do CTS-Brasil, Luis Antonio Lindau.
O resultado da alta concentração de veículos nas cidades é a saturação viária, a imobilidade, a estagnação econômica, a diminuição da competitividade e o aumento da poluição. “Na América Latina temos altos índices de poluição atmosférica, algo que não enxergamos. Só respiramos e diminuímos a nossa expectativa de vida”, disse Lindau.
Não são só os carros que aumentam de números nas ruas, mas também as motocicletas. Os incentivos para adquirí-las são enormes, como os baixos custos de compra e manutenção e a rapidez do deslocamento. Porém os problemas acarretados são proporcionais, como a incapacidade física de suportá-las nas vias e o alto número de mortes.
O Brasil foi pioneiro na criação de corredores de ônibus, mas dada a situação atual das cidades não parece ter obtido muito sucesso. Lindau culpa a descontinuidade política. “Nós inventamos o corredor de ônibus e hoje os brasileiros estão pelo mundo fazendo projetos. Porém aqui não implantamos corredores eficientes. O transporte público atende apenas 30% da demanda”, explica.
Enquanto em todo o Brasil são 400 quilômetros de corredores de ônibus, sendo 50% concentrados em três cidades (São Paulo, 100 km; Curitiba, 72 km, e Porto Alegre, 50 km), a Cidade do México planeja ter 570 quilômetros em seis anos. A capital mexicana é um exemplo hoje de sistema eficiente.
Com 21,5 milhões de habitantes, a cidade iniciou a implementação de uma rede de transporte público com 20 quilômetros de metrobus, que atende 220 mil passageiros diariamente e já promoveu a redução de 27 mil toneladas de dióxido de carbono (CO2), vendidos para o Fundo Espanhol de Carbono. “Obtivemos uma redução de 30 a 50% da poluição do ar”, afirma Adriana.
O governo pretende, no entanto, fazer uma expansão massiva nos próximos seis anos, além de integrar a rede metropolitana, aumentar a sustentabilidade financeira e usar tecnologias limpas.
O EMBARQ, Centro de Transporte Sustentável do Instituto de Recursos Mundiais (WRI), foi criado em 2002 com o objetivo de buscar soluções para o problema da mobilidade urbana. Hoje possui centros no México, Brasil, Turquia e Índia e obtém o apoio financeiro da Corporação Andina de Fomento (CAF).
Além disso, a rede fez uma parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde para desenvolver projetos de incentivo de atividades físicas. “O trabalho que fazemos tem um impacto grande na saúde, integrando o uso de caminhadas e bicicletas”, explicar o diretor do EMBARQ/WRI, Luis Gutierrez.
(Por Paula Scheidt,
CarbonoBrasil, 18/02/2008)