Os índios da reserva yanomami, que na quinta-feira receberam a visita da Comissão Especial da Câmara Federal que analisa o projeto de mineração nos estados brasileiros, disseram que os membros que compõem a comitiva chegam impondo as condições, ao invés de discutir com calma as questões.
A informação foi repassada pelo tesoureiro da Hutukara Associação Yanomami (HAY), Dário Vitório Kopenawa, e pelo representante do povo Yekuana, Raul Luiz Yacashi Rocha, que acompanharam a comissão nas visitas que fizeram às regiões de Surucucu e Auaris. Segundo os indígenas, a comitiva chegou às localidades propondo benefícios que a mineração trará, sem ao menos se preocupar com todas as questões que envolvem a temática.
"Eles chegaram dizendo que nosso povo iria receber muitas coisas boas e que nós tínhamos que aceitar o projeto do governo. Não perguntaram se somos a favor ou não da implantação da mineração", disse Dário. Conforme os representantes yanomami, o tempo de duração da visita, de aproximadamente 1h30, é muito curto para relatar o projeto e ouvir as questões envolvidas.
Segundo os dirigentes da HAY, é necessário se levar em conta questões como desmatamento, transmissão de doenças, poluição, prostituição, criação de vilas dentro da reserva, dentre outros problemas, que surgirão com a livre mineração. "Se o governo autorizar a mineração, nosso povo vai morrer. Não temos condições para suportar o garimpo com todo o mal que vem junto com ele", disse o líder indígena.
Os índios esperam por providências imediatas para se chegar a um consenso com relação ao assunto. Os yanomami querem que de imediato o governo expulse de suas terras cerca de mil garimpeiros que exploram clandestinamente os minerais que lá existem.
A HAY, com sede em Boa Vista, enviou nota à Folha informando que é contra o projeto de mineração que está sendo discutido em audiência pública. "O projeto levará a morte aos yanomami, como aconteceu nos anos 80 e 90 com os garimpeiros dentro da terra indígena", diz a nota.
A entidade lembrou que os professores yanomami reunidos no VIII Curso de Formação realizado em Auaris, em junho do ano passado, discutiram a proposta do Governo Federal sobre a abertura de todas as terras indígenas para a exploração das mineradoras.
No documento, eles pedem que os índios devem ser consultados, mas de antemão avisam que são contra: "Se esse projeto for aprovado, trará muitos problemas para todas as terras indígenas do Brasil".
A Comissão da Câmara Federal que analisa as áreas de minerações no Brasil é composta pelos deputados Édio Lopes (presidente), Bel Mesquita (vice-presidente), Eduardo Valverde (relator), Perpétua Almeida, João Almeida e Márcio Junqueira (membros).
(Paulo Walter,
Folha de Boa Vista, 16/02/2008)