A Petrobras avalia neste semestre os projetos da área de geociências desenvolvidos por universidades brasileiras que poderá apoiar no triênio 2009/11. Segundo o gerente de Geologia Estrutural e Geotectônica do Centro de Pesquisas (Cenpes) da empresa, Edison Milani, o próximo passo é “valorar [os projetos] e passar a competir pelos recursos do orçamento”. No triênio 2006/2008, o investimento da estatal em geociências foi de R$ 110 milhões, com destaque para o suporte de quatro redes (geotectônica, geofísica, sedimentologia e geoquímica).
Na área de geologia estrutural e geotectônica, dois projetos contam este ano com recursos da Petrobras equivalentes a 0,5% do faturamento de determinados campos de óleo, em atendimento à Lei do Petróleo, que obriga as concessionárias a investir esse percentual em pesquisas. O primeiro prevê a instalação de uma rede sismográfica, coordenada pelo Observatório Nacional, para monitorar tremores de terra no país. O outro prevê a instalação de sensores magnéticos de posicionamento (GPS, do inglês Global Positioning System) que permitem detectar movimentações mínimas, em escala de milímetros, de blocos ou áreas do território nacional.
Os projetos que recebem recursos da chamada participação especial necessitam ter o aval prévio da Agência Nacional do Petróleo (ANP), explicou Milani,em entrevista à Agência Brasil. “A Petrobras está colocando recursos para construir uma infra-estrutura, mas o grande usuário dessa infra-estrutura é o meio cientifico brasileiro”, destacou Milani, ao falar sobre o projeto da rede sismográfica. Treze instituições de ensino superior fazem parte do projeto.
Milani ressaltou que não há risco de abalos sísmicos para a segurança da estrutura das plataformas marítimas de petróleo. “Se fosse um ponto crítico a estabilidade de plataformas, a Petrobras já teria construído há muito tempo uma rede própria para monitorar isso. Na verdade, se tem alguém que zelar por condições de segurança, esse alguém é a Petrobras.”
Ele informou que, depois de instalada, a Rede de Estudos Geotectônicos, que representará uma grande fonte de conhecimento técnico-científico, ficará à disposição de toda a sociedade e também da Petrobras, que apóia o projeto com cerca de R$ 20 milhões.
Milani lembrou o tremor de terra ocorrido sábado (16/02) no Ceará, que atingiu 13 municípios e teve como epicentro a cidade de Sobral. O abalo alcançou 3,5 graus na Escala Richter e, embora considerado pequeno, assustou os moradores da região. “O Brasil é uma grande área cega em termos de monitoramento de sismicidade”, disse Milani, embora mais estável que outros países latino-americanos, como Argentina e Bolívia. Ele alertou, porém, que as condições de geologia particulares não deixam o país totalmente isolado da possibilidade de terremotos.
“Eles [tremores] existem, significativos alguns, e a rede de sismógrafos que está sendo planejada é justamente para monitorar e entender melhor o nosso território.” Isso não quer dizer, entretanto, quea rede terá condições de prever a ocorrência de tremores de terra: “Consegue-se constatar alguma coisa, mas [de] prever algum problema o equipamento não tem capacidade. Ele pode dar tendências históricas. Os fenômenos naturais não têm esse controle absoluto de previsibilidade.”
Quanto ao projeto de instalação de sensores magnéticos de posicionamento, Milani explicou que se trata de outro tipo de monitoramento, agora de movimentações horizontais. "Isso, em escala de planeta, é muito relevante, porque o que causa o terremoto é justamente a movimentação das partes entre si”, argumentou. A instalação do GPS funcionará como complemento à rede sismográfica coordenada pelo Observatório Nacional. A perspectiva é que os recursos alcancem o mesmo valor dessa rede.
O projeto, que deve ser apresentado nos próximos meses pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), começou a ser discutido no ano passado, mas ainda estão sendo desenvolvidos estudos. “A gente pretende começá-lo durante 2008 ainda”, disse o gerente do Centro de Pesquisas da Petrobras. Para definir os projetos que receberão apoio da Petrobras, o Cenpes realiza anualmente duas reuniões, das quais participam representantes de todas as universidades do país.
(Por Alana Gandra, Agência Brasil, 18/02/2008)