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cerrado passivos do agronegócio
2008-02-19

Rio Verde, no sudoeste de Goiás, é o maior produtor de soja do Estado, que teve sua produção triplicada na última década. O aumento ocorreu principalmente devido aos bons preços no mercado internacional e ao desenvolvimento tecnológico relacionado à produção, permitindo o plantio da cultura no Centro-Oeste brasileiro. Contudo, este desenvolvimento causa perdas ambientais, mas apenas a consciência dos agricultores sobre este problema não é suficiente para amenizar o impacto ambiental da sojicultura.

A pesquisadora Clarissa de Araújo Barreto, em sua dissertação de mestrado realizada pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental (PROCAM) da USP, procurou identificar de que forma os cultivadores de soja - chamados sojicultores - entendem a questão ambiental e como eles lidam com isso. Para ela, apenas o conhecimento pelo agricultor dos danos ambientais que sua atividade causa não resolve problemas como o desmatamento em áreas proibidas pela legislação ambiental.

“O bom preço da soja e a fiscalização deficiente dos governos federal e estadual fazem com que a plantação avance sobre as áreas de preservação permanente das propriedades e até mesmo sobre a beira das rodovias”, afirma Clarissa. A pesquisadora afirma existirem apenas cinco fiscais do Ibama para toda a região Sudoeste de Goiás, e os próprios fiscais disseram que a maior parte do trabalho de fiscalização ocorre em cima de denúncias. Atualmente só restam 25% da área de Cerrado que havia no Estado.

As áreas nas beiras dos rios, altos de morros, além de 20% de toda a área das propriedades têm de ser preservadas com sua vegetação natural, mas para Clarissa, a afirmação por parte dos agricultores de que estas áreas estão sendo preservadas pode ser enganosa, já que muitos poderiam temer ações do governo a partir de sua pesquisa. Além disso, a maioria das propriedades pesquisadas não possuía a área mínima obrigatória de vegetação natural, comprovando o desmatamento ilegal.

Para a pesquisadora, no entanto, não se pode culpar apenas o agricultor pelo desmatamento e demais danos ambientais, como a erosão ou a contaminação por agrotóxicos. Clarissa defende a necessidade de uma maior participação do governo, seja na fiscalização sobre o desmatamento, seja no desenvolvimento de tecnologias que agridam menos o meio ambiente. “O Brasil possui pesquisas muito boas na área da agricultura, como as da Embrapa, mas a preocupação com os problemas ambientais é bastante recente. Quando essas pesquisas permitiram o cultivo de soja no Cerrado, não se pensou nos danos que isso causaria”.

O Cerrado, juntamente com a Caatinga, são biomas brasileiros que não possuem status de patrimônio nacional. Sua vegetação é rala e menos vistosa que a exuberante Amazônia, o que faz com que muitos não se preocupem com a sua devastação. Ainda assim, o Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, com grande diversidade biológica, sendo classificado internacionalmente como um hotspot (local de grande diversidade biológica e altos índices de ameaça de extinção, indicado como uma das prioridades para a conservação da biodiversidade). Nos últimos 12 anos, tem se tentado transformar o Cerrado e a Caatinga em patrimônio também, sem sucesso até agora.

Novas técnicas

Atualmente, novas técnicas de cultivo tentam diminuir o impacto ambiental, como no caso do plantio direto. Nele, a terra não é arada antes do plantio, além de receber a proteção da matéria vegetal que não é colhida pelas máquinas, como os caules e folhas da soja, da qual apenas o grão é comercializado. Embora haja dúvidas sobre a necessidade de maiores doses de agrotóxicos nesse tipo de plantio, há menor emissão de CO2 por tratores, menos erosão, menores custos e aumento da produtividade.

 “As tecnologias importadas pelo Brasil não eram adaptadas às condições daqui. O arado, por exemplo, muito bom para aumentar a produtividade em solos de climas temperados, onde é usado após o inverno para romper as camadas de gelo que se formam, aqui é desnecessário”, esclarece a pesquisadora. Também foram desenvolvidos novos agrotóxicos, que se degradam mais rapidamente.

“Existe uma preocupação ambiental em todo o mundo, e os agricultores daqui estão ligados nisso, mas a participação do governo é fundamental. Mais do que fazer cumprir normas, proteger reservas e matas ciliares é uma questão de sobrevivência da atividade agrícola e o governo precisa se preocupar com isso”, defende Clarissa. “Em outros estados, como em Mato Grosso, já existem ONGs trabalhando com o reflorestamento de áreas que deveriam estar protegidas, isso é algo que falta aqui em Goiás”.

Agrotóxicos

Mesmo sendo o maior produtor de soja do estado, Rio Verde não possui nenhum médico toxicologista trabalhando na cidade, e o número de casos de intoxicação por defensivos agrícolas (veneno) registrado no período pesquisado por Clarissa, entre 2004 e 2005, é menor que o de municípios vizinhos, o que é indício de que há uma subnotificação dos casos de intoxicação registrados em Rio Verde.

Clarissa acredita serem urgentes medidas governamentais para oferecer serviço médico especializado em intoxicações e também um maior cuidado para a correta notificação dos casos diagnosticados como intoxicação. A pesquisa contou com dados da companhia fornecedora de água da cidade, que em suas análises não registrou nenhum agrotóxico em níveis acima do permitido, mas, ainda assim, em seu trabalho, Clarissa propõe estudos mais detalhados sobre a água, já que as grandes áreas de cultivo de soja exigem quantidades muito grandes de agrotóxicos.

Mais informações: cissa@usp.br, com Clarissa de Araújo Barreto.
Dissertação de mestrado (Agricultura e meio ambiente: percepções e práticas de sojicultores em Rio Verde-Go) orientada pela professora Helena Ribeiro, da Faculdade de Saúde Pública (FSP) e do PROCAM da USP

(Por Leonardo Zanon, Agência USP, 18/02/2008)

 


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