Na tarde deste sábado (16), a coordenadora do Núcleo Amigos da Terra Brasil Lúcia Ortiz participou do painel “Práticas Sustentáveis para o Planejamento e Construção em Centros Urbanos”. Ela resgatou a história do ambientalismo gaúcho, na qual se insere a do NAT, que há mais de 40 anos começava a se organizar através da Ação Democrática Feminina Gaúcha (ADFG).
De lá para cá, vitórias se acumulam na sua história, mas principalmente, para a comunidade. Como foi o caso de campanhas como a da “Ciclovia Já” de 1996, e do empenho pela construção da ciclovia na III Perimetral e reedição do manual do ciclista que devem acontecer neste ano.
Na área das políticas públicas, Lúcia destacou a mobilização do grupo para a aprovação da Lei Complementar nº 560, de janeiro de 2007, que institui o Programa de Incentivos ao Uso de Energia Solar nas Edificações. Porém, lembrou que esta ainda aguarda a regulamentação para que possa se tornar realidade.
A abertura do Fundo Municipal de Meio Ambiente proporcionou a realização, em 2007, de uma parceria dos Amigos da Terra com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, para a realização das Quartas Temáticas da Cidade. Encontros mensais onde se tinha a oportunidade de discutir sustentabilidade com profissionais e a comunidade e de encaminhar propostas para as políticas locais. Desde então, as organizações não-governamentais podem enviar projetos para avaliação do Conselho Municipal de Meio Ambiente.
CasaNAT
Como exemplo de construção sustentável, Lúcia apresentou o projeto casaNAT que, inclusive, segue na buscando parceiros, além dos que já aderiram como o Banco Real e a IEM. O imóvel, cedido pelo Patrimônio da União e situado no bairro Cidade Baixa, vai concentrar a sede permanente do Núcleo Amigos da Terra/Brasil, o Centro de Referência para Edificações Sustentáveis e o Centro de Documentação Magda Renner.
Como bem lembrou Lúcia, a iniciativa prevê ainda o resgate da fachada da casa e a aplicação de técnicas sustentáveis em edificações no meio urbano, como o aproveitamento da água da chuva, a reciclagem e utilização de materiais locais, o uso da energia solar, o isolamento térmico auxiliado por telhados verdes e o tratamento das águas cinzas a serem largadas no sistema de esgoto da cidade.
Outros painelistas
Laura Valente de Macedo abordou o trabalho do ICLEI, sigla da rede que articula governos locais pela sustentabilidade. São constituídos por prefeituras, condados, associações de municípios, dentre outros e já somam 800 em todo o mundo. No Brasil, Porto Alegre faz parte, além de São Paulo e Minas Gerais, por exemplo.
Márcio Astrini, do Greenpeace apresentou o programa “Cidade Amiga da Amazônia”, o qual Porto Alegre aderiu em 2007. Conforme explicou, o principal vetor da destruição da Amazônia é a extração de madeira ilegal, sendo que 80% da extração é feita ilegalmente. A partir do programa, as prefeituras e governos estaduais, cujas compras públicas representam um terço do consumo de madeira ilegal no Brasil, passam a desenvolver critérios para a compra de madeira legal.
O arquiteto Roberto Teitelroit apresentou a certificação Green Building, cujo conceito data de 1990. Segundo disse, esse reconhecimento só é feito mediante a comprovação de que todo o ciclo de construção de uma obra tenha se dado de maneira sustentável. Admitiu que as construções certificadas têm um custo mais alto do que as convencionais, mas garantiu que o retorno do investimento vem na operacionalização, bem como através da economia de energia, de recursos naturais e garantia de mais qualidade de vida aos moradores.
A Conferência Mundial sobre o Desenvolvimento de Cidades se encerrou na noite deste sábado. Mas, com certeza, não o debate e o sentimento do cidadão de empoderamento na busca de soluções aos problemas enfrentados nesta necessária fase de transição para cidades mais sustentáveis.
(Por Eliege Fante, Nat/Brasil/EcoAgência, 16/02/2008)