Mais um capítulo da longa disputa pela abertura ou não da Mina Santa
Cruz, em Içara (SC), será escrita hoje (18/02). Depois de muitas
tentativas, o caso entra mais uma vez em votação no Pleno do Tribunal
de Justiça de Santa Catarina. Mineiros e agricultores se organizaram e
partem para Florianópolis acompanhar a votação, que tem início previsto
para as 14h de hoje.
Para garantir a segurança e evitar tumultos como o ocorrido da última
vez em que o tema esteve em pauta, o presidente do Tribunal de Justiça,
desembargador Francisco Oliveira Filho, solicitou à Polícia Militar
reforço na segurança. Um esquema especial está sendo organizado para
permitir o acesso dos manifestantes ao auditório do Pleno. Mesmo que as
sessões de julgamento sejam públicas, não é permitido nenhum tipo de
manifestação. Em dezembro do ano passado, a presença de manifestantes
prós e contra a instalação da mina foi grande e um pequeno tumulto foi
registrado.
O presidente da Federação dos Trabalhadores de Carvão dos Estados de
Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, Arnoldo Mattos, acredita
que os desembargadores devem dar um parecer nesta segunda-feira. Mattos
está confiante na decisão favorável à instalação da mina. "A
Constituição é clara e cumprindo as exigências ambientais eu não vejo
preocupação". O presidente da Federação dos Trabalhadores coloca ainda,
que em sua opinião, não é possível proibir a exploração do carvão e
criar uma Área de Preservação Permanente (APP), onde já existem outras
empresas. "Se for criado a APP, não será só a exploração do carvão que
ficará impossibilitada, mas também as cerâmicas, a plantação de arroz,
que se fôssemos analisar, são prejudiciais para o meio ambiente. Não
acredito que o Tribunal fará um retrocesso desses com Içara", relata
Mattos.
O presidente explica que na sua visão não seriam apenas os mineiros os
prejudicados, mas todo o município de Içara. "Outra coisa que gostaria
de deixar claro é que os mineiros não têm nada contra os agricultores,
como é colocado em algumas situações".
Em relação às conseqüências, caso a mina não possa ser aberta, Mattos
explica que não há riscos de demissão, já que o local ainda não é
explorado. "A conseqüência maior será para o município de Içara e não
só para a mineração. Se isso acontecer, outros locais serão procurados
para a instalação de novas minas", enfatiza.
Decisão deve sair
na sessão de hoje
Os mineiros se organizaram e partem para a Capital em aproximadamente
20 ônibus. Os agricultores também vão marcar presença em Florianópolis.
Eles lotam cerca de 11 ônibus.
O advogado do Movimento Pela Vida, Walterney Réus, também acredita que
a decisão saia na sessão de hoje. "Pode haver novos pedidos de vista,
já que são dez desembargadores que não vinham acompanhando o caso,
porém o Tribunal de Justiça já está cansado, e o fato de um pedir vista
não impede que os outros votem".
Em relação à expectativa, Walterney acha complicado fazer uma colocação
antes do resultado. "Nós estamos contando com a sensibilidade dos
desembargadores. A mineração é uma atividade muito danosa ao meio
ambiente e, esperamos que isso seja realmente levado em conta", explica.
Entenda o caso
O Pleno do Tribunal de Justiça está julgando o mérito da Ação Direta de
Inconstitucionalidade (Adin), que questiona o artigo 5º da Lei
Municipal nº 2.086/04, de Içara, que permite atividades industriais em
Áreas de Preservação Ambiental (APA) desde que as empresas apresentem
licenças dos órgãos responsáveis. Porém o dispositivo legal está
suspenso por decisão liminar do Pleno desde 17 de maio de 2006. Todo
esse movimento e discussão, na prática, engloba a implantação ou não de
uma mina na comunidade de Santa Cruz, pela empresa Rio Deserto, e que
teria reflexos ecológicos diretos nas comunidades de Santa Cruz,
Espigão e Esplanada.
A Adin foi proposta pelo Ministério Público Estadual e o julgamento do
mérito teve início em 24 de setembro de 2007, quando a relatora,
desembargadora Salete Sommariva, posicionou-se favorável à
constitucionalidade da lei. Outros desembargadores já se manifestaram e
a votação, neste momento, aponta nove votos contra três pela
inconstitucionalidade da lei, ou seja, contrário à exploração de carvão
na região.
A quantidade de votos restante é suficiente para qualquer decisão. Ao
todo são 50 desembargadores, mas dificilmente todos votarão. De acordo
com o advogado Walterney Réus, o quorum mínimo é de 25 desembargadores.
(Francieli Oliveira,
A Tribuna, 18/02/2008)