Saiu a campo na sexta-feira, 15, a equipe responsável pela avaliação do impacto ambiental na fauna de peixes a partir da retomada das obras de construção da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho. Os pesquisadores fazem parte do grupo contratado pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), responsável pelo Estudo de Impacto Ambiental (EIA) da obra.
Em novembro passado, o núcleo de Ictiofauna (conjunto das espécies de peixes de uma região), assim denominada a área de trabalho em questão, fez um sobrevôo por toda a extensão da rodovia, no qual foram identificados 15 corpos d’água (entre rios, lagos, igarapés etc.) considerados adequados para a realização dos trabalhos de coleta de material. Os locais foram devidamente georreferenciados e fotografados para serem utilizados como ponto de partida na investigação terrestre da equipe. Alguns aspectos influenciaram na caracterização dos ambientes aquáticos como sendo “bons” para coleta: a largura, profundidade, correnteza, qualidade de água, são alguns deles.
Há duas semanas, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) expediu a licença para coleta dos peixes. Cinco apetrechos são utilizados na coleta: rapiché, puçá (uma espécie de peneira), rede de arrasto, tarrafa e malhadeiras.
“Vamos percorrer os trechos entre os quilômetros 255 e 655 da rodovia. A proposta é que coletemos em dois pontos dos corpos d’água, um em cada margem da estrada. Inclusive, no processo de escolha dos locais para coleta esse foi um pré-requisito, ter possibilidade de travessia, de um lado para o outro. A medida que formos encontrando os pontos identificados como adequados para a captura vamos confirmando as coordenadas geográficas para ver se elas batem com as extraídas durante o sobrevôo”, explica Flávia Souza, coordenadora da equipe.
A coleta terá 10 dias de duração em mata aberta e fechada. Segundo Flávia, existe possibilidade de se encontrar novas espécies de peixes. “Não conhecemos nenhum estudo na área de ictiofauna ao longo da BR-319. Se existem, são poucos. A nossa meta é coletarmos o máximo de material possível, leve o tempo que for em cada ponto, conservando-o de maneira adequada, para ajudar na tarefa de identificação em nível de espécie”, diz a pesquisadora.
O sucesso na triagem e análise dos peixes, que acontece no laboratório de Ecologia Pesqueira da Ufam, dependerá, entre outros fatores, do grau de preservação dos animais capturados in loco. É um trabalho que exige muitos cuidados.
Ainda que desconhecendo literaturas especializadas sobre a fauna pesqueira da BR-319, Flávia Souza espera encontrar muitas espécies de piabas. Esses peixes são bastante conhecidos habitantes de igarapés, um dos refúgios mais abundantes dentre os pontos escolhidos.
Conhecer: primeiro passo rumo à preservaçãoNo laboratório, a partir da identificação dos peixes, será possível extrair um perfil populacional de algumas espécies. Por exemplo, qual a mais abundante, as mais raras, as que se encontram em risco de extinção ou aquelas endêmicas da região, ou seja, só ocorrem ali. Além disso, será possível mensurar algumas mudanças ocasionadas na biodiversidade da região em decorrência da primeira fase da construção do empreendimento.
“Temos a ciência do impacto, inevitável, que a construção causou no passado e que causará agora, com a retomada do projeto. Por isso é importante sabermos, antes do recomeço da obra, quais as espécies habitam essas áreas e até que ponto esses locais estão preservados”, ressalta Flávia. Nesse sentido, o trabalho do grupo atende ao objetivo de subsidiar a criação de ações mitigadoras e compensatórias para essas áreas.
Paralelamente os trabalhos de ictiofauna também serão realizadas pesquisas em outras áreas. Entre elas destaca-se a limnologia (ciência que estuda as águas). Já foram selecionados 18 pontos de coleta das amostras de água (duas de cada ponto), muitos destes são os mesmos da equipe de peixes.
Até o dia 15 do próximo mês, o relatório da equipe, contendo todas as análises e pareceres, será encaminhado à coordenação do EIA para ser anexado ao documento final que comportará outras avaliações das demais áreas de pesquisa previstas no estudo.
A população pode acompanhar as atividades das equipes do EIA por meio do site www.br319.ufam.edu.br e fazer comentários sobre a proposta da obra .
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Agência Amazônia, 15/02/2008)