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pesquisas científicas heliosfera
2008-02-18

Pesquisadores de todo o continente se reuniram na última quinta-feira (14/02) para a abertura da Escola Latino-Americana 2008 do Ano Heliofísico Internacional (AHI), realizada na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. O encontro, composto de mais de 40 palestras e dezenas de pôsteres, prossegue até o dia 20.

Iniciadas no ano passado, as atividades do AHI se estenderão até 2009. O AHI marca o cinqüentenário do Ano Geofísico Internacional, que reuniu, em 1957, mais de 60 mil cientistas de 67 países para produzir um salto sem precedentes no conhecimento sobre o planeta.

Em vez de enfocar o espaço terrestre como a iniciativa anterior, o programa é voltado para estudos sobre toda a heliosfera – a região, definida pela atuação do campo magnético e vento solar, forma um volume com uma distância típica de aproximadamente 100 vezes a do Sol à Terra. Cientistas de 191 países participam da iniciativa.

De acordo com David Webb, coordenador das Escolas Internacionais do AHI, o objetivo principal do evento é aglutinar jovens pesquisadores e estudantes de todos os níveis e áreas diferentes da física e fazê-los interagir diretamente com os principais cientistas envolvidos com o tema no cenário internacional.

“Não existem cursos de heliofísica, ou de relações Sol-Terra. Por isso, é importante estimular essa interdisciplinaridade desde os cursos básicos, fazendo com que jovens pesquisadores se envolvam com programas de pesquisa nesse campo e os articulem com suas especialidades”, disse Webb à Agência Fapesp.

Segundo ele, que é pesquisador do Boston College e do Laboratório de Pesquisas da Força Aérea dos Estados Unidos, as escolas internacionais abordam assuntos de relevância para problemas atuais, como aquecimento global, efeito estufa, variações climáticas globais e eventos climáticos extremos.

“São muitos temas, incluindo a pesquisa mais avançada a respeito de raios cósmicos e física da heliosfera, física solar, física de magnetosferas e ionosferas planetárias e estudos climatológicos. Além do aspecto voltado à formação de recursos humanos e ao fomento do contato entre os pesquisadores, as escolas trazem realmente contribuição científica relevante”, disse.


Detector de tempestades

Um dos destaques do primeiro dia do evento foi a palestra de Walter Gonzalez, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), sobre a origem interplanetária das tempestades magnéticas.

“Nosso grupo no Inpe está trabalhando especialmente com a questão das supertempestades magnéticas – aquelas que alcançam mais de 300 nanotesla. É um tema de grande interesse para a previsão do clima espacial do mundo”, disse Gonzalez à Agência Fapesp.

De acordo com o pesquisador, as tempestades superintensas são as que causam mais estragos em satélites, além de afetar eventualmente a superfície terrestre, causando blecautes em redes elétricas e danos em redes de comunicação.

“Estamos trabalhando em colaboração com um laboratório da Nasa [agência espacial norte-americana] em Pasadena para desenvolver modelos capazes de prever essas tempestades magnéticas de origem solar. O problema é que elas não têm uma periodicidade identificada e podem ocorrer em qualquer momento do ciclo de atividade solar”, explicou.

Segundo o cientista, pode-se observar atividades anômalas no Sol, que geram grandes erupções e injeções coronais. Ao viajar no espaço entre a estrela e a Terra, essas estruturas têm parâmetros que, dependendo da direção e magnitude, desencadeiam uma grande tempestade. “O parâmetro mais importante é o campo magnético e sua direção. Se não for paralelo ao campo magnético da Terra, há chance de haver uma supertempestade”, disse Gonzalez.

Atualmente, no entanto, os satélites disponíveis permitem a detecção das tempestades de uma a duas horas antes da ocorrência. O desafio é conseguir prever a supertempestade assim que o fenômeno acontece no Sol.

“Se conseguirmos isso, poderemos fazer uma modelagem e prever as tempestades com 15 a 20 horas de antecedência, o que permitiria manipular um satélite ou preparar uma estrutura de transmissão elétrica ou de comunicações para a ocorrência”, destacou Gonzalez.


Partículas aceleradas

Outro destaque do primeiro dia do encontro foi a palestra “Novas tendências em física solar”, do professor Pierre Kaufmann, do Centro de Rádio Astronomia e Astrofísica Mackenzie (Craam) da Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

De acordo com Kaufmann, os mecanismos físicos das explosões solares continuam inteiramente desconhecidos. Mas existem evidências de que sua origem está relacionada à aceleração de partículas – em particular elétrons – a velocidades extremamente elevadas, muito superiores às que se imaginava anteriormente.

“Esse diagnóstico pode ser medido em comprimentos de onda que se situam na faixa do infravermelho distante e próximo, fazendo uso de tecnologias que se situam entre microondas curtas e o visível. Nosso grupo tem conseguido resultados inéditos mostrando essas evidências”, disse à Agência Fapesp.

Segundo o pesquisador, junto às manchas solares existem poderosos aceleradores de partículas naturais. “A tendência atual é fazer uma analogia entre o processo de aceleração de partículas em grandes aceleradores de laboratório e os que dão origem a explosões solares.”

Kaufmann contou que dentro de dois meses será realizado um workshop em Paris, na França, com o objetivo de discutir a construção de sensores de infravermelho distante a bordo de um satélite em uma missão franco-chinesa, cuja meta é a detecção dessa componente de emissão que identifica a presença de partículas de altíssima energia em explosões solares.

(Por Fábio de Castro, Agência Fapesp, 18/02/2008)

 


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