Porto Alegre (RS) - O levantamento sobre os novos financiamentos e as verbas liberadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em 2007 suscita críticas da sociedade civil à instituição. De acordo com o balanço anual, o BNDES aprovou R$ 98,8 bilhões em novos empréstimos no ano passado, batendo recorde em relação a 2006. Também superou os recursos liberados, de R$ 64,9 bilhões, cerca de 24% a mais em relação ao registrado no ano anterior.
Somente o segmento da energia obteve R$ 12,8 bilhões em empréstimos aprovados pelo BNDES, um aumento de 207% em relação a 2007. Grande parte dos recursos será utilizado para a construção de novas hidrelétricas previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Apesar dos valores surpreenderem pela alta quantia a ser aplicada pelo banco, eles não significam desenvolvimento. Para a pesquisadora Luciana Badin, do Instituto Brasileiro Sócioeconômico (Ibase), o indicador apresentado pelo BNDES privilegia a quantidade de recurso e peca na falta de informações, fazendo com que a população não consiga ter uma opinião sobre o trabalho do banco.
"Você saber que foi desembolsado tantos bilhões de reais para um determinado empreendimento é pouco, porque precisamos abrir esses números. Saber que processos industriais foram financiados. A gente sabe que o que vem crescendo é o desembolso para o setor de papel e celulose. E que é um setor totalmente questionável devido aos impactos ambientais e sociais, em relação à concentração de terra. Também é preciso descriminar melhor que tipo de projetos está sendo beneficiado, a quem eles beneficiam, como a população local se relaciona com ele, gerou emprego, desarticulou ou articulou o desenvolvimento local", diz.
Luciana defende uma maior transparência do BNDES, criando indicadores de avaliação mais completos. No entanto, as críticas da pesquisadora não se restringem somente aos números. Ela também aponta que está na hora do banco mudar seu perfil de financiamento, passando a investir em projetos sociais e em empreendimentos ligados à economia local e ao mercado interno. Somente se aproximando da população, diz Luciana, o BNDES conseguirá influenciar diretamente no desenvolvimento das populações mais pobres. Em 2007, boa parte dos investimentos ficou restrita ao Sudeste, onde estão as maiores empresas do país.
"Ele ainda não conseguiu mudar a sua lógica e, o que é mais grave, ele não tem se proposto a fazer essa mudança. É difícil mudar a lógica do fluxo de financiamento de uma instituição quando está muito consolidada essa visão, mas ele [BNDES] precisa se abrir à sociedade para tentar mudar seu perfil de financiamento. Por exemplo, ele não consegue aumentar seus financiamentos para regiões mais pobres, como Norte e Nordeste. O banco reconhece e não consegue dar o salto, porque ele fica preso a um tipo de financiamento que não se adequam a essas regiões", afirma.
O financiamento do BNDES é a longo prazo, com juros e prazo de carência menores do que nos bancos privados.
(Por Raquel Casiraghi,
Agencia Chasque, 12/02/2008)