Porto Alegre (RS) - O aparecimento da mosca branca nas lavouras de soja nas Missões tem surpreendido agricultores e técnicos da região. A praga é característica do cultivo do feijão e começou a atingir, nos últimos anos, a cultura da mandioca, mas raramente é detectada na soja. A última vez que apareceu com maior intensidade foi no ano de 2004, durante a forte estiagem que atingiu todo o Rio Grande do Sul. Até então, fazia quase dez anos que a praga não atacava os sojicultores.
O engenheiro agrônomo da Emater, Jair Domenighi, afirma que praticamente todos os municípios da região detectaram a presença da mosca branca. O motivo é a falta de chuva que atinge, de forma irregular, as Missões. Algumas cidades têm tido boas precipitações, mas em outras chove quase nada desde o ano passado. A incidência da praga preocupa porque ela ocasiona o enfraquecimento da planta e, se não for controlada, pode até mesmo matar o cultivo.
"Normalmente ácaro e mosca branca são associados à estiagem. Em anos de pouca precipitação, a presença de ácaro, que também tem ocorrido em municípios em que há falta de chuva, tem sido grande", diz.
Apesar de irregular, a estiagem que afeta a região pode provocar perda de até 30% nos cultivos de milho e de soja em algumas localidades. No caso da agricultura familiar, as perdas se concentram, além do plantio do milho, no girassol e na seca das pastagens, reduzindo assim a produção de leite. O agricultor Luis Hammel, presidente da Cooperativa de Agricultores de São Pedro do Butiá (Cooperbutiá), perto da cidade de Santo Ângelo, relata que a falta de chuva se tornou um problema grave na cidade. Nos últimos 15 anos, diz Luis, apenas três safras não sofreram grandes perdas.
Para este ano, o agricultor prevê que a quebra de milho seja maior do que a de soja, podendo chegar a até 50%. "Nesse ano o milho sofreu. O pessoal colheu a metade, muitos menos do que a metade. A soja não se desenvolveu na grande maioria das áreas. Nesse ano foi ruim", afirma.
A mudança climática na região e em municípios vizinhos não é considerada um fato isolado para o agricultor Canísio Bourscheid, do município de Cândido Godói, região de Santa Rosa. Ele afirma que as estiagens, que antes eram fenômenos raros, têm ficado cada vez mais forte na região. Além da falta de chuva, os produtores sofrem com o secamento de córregos e rios. Para Canísio, o uso de agrotóxicos, que aumenta à medida que a soja transgênica cria resistência em relação às pragas, é um dos principais responsáveis pelo desequilíbrio.
"Muitos agricultores dizem que o Roundup não é veneno, que não influi muito no meio ambiente. Mas se reparar, temos muita terra dobrada que sempre estava molhada. No entanto, se pegar essas terras que receberam, durante dois, três anos o Roundup, vamos ver que ela ficou mais seca. Tem muito a ver com o veneno", argumenta.
Canísio também reclama da dificuldade dos agricultores familiares produzirem de forma agroecológica. Ele integra a coordenação geral da Cooperativa Agroecológica Cândido Godói (COOPERAE), que produz entre outras coisas, farinha de milho caiano e de soja orgânicas. "Hoje é bem complicado justamente por causa da soja transgênica. Para o agricultor conseguir uma área afastada e baixa, para que não ocorra é complicado", diz.
(Por Raquel Casiraghi,
Agencia Chasque, 13/02/2008)