O prefeito esta contente: cinco aerogeradores de 135 m de altura se erguem na planície. No início de fevereiro, a comuna de Saint-André-Farivillers (Oise, ao norte de Paris) viu as hélices do seu novo parque eólico, de uma potência de 11,5 megawatts (MW), começarem a girar. Uma vez que a companhia que explora este sistema, a Enertrag France, pagará a cada ano para a comuna cerca de 700 euros - R$ 1.780 - por MW, o prefeito Claude Le Couteulx prevê um faturamento de cerca de 40.000 euros (pouco mais de R$ 1,018 milhão) em receita extra.
"Temos duas usinas que custam 60.000 euros (R$ 1,527 milhão)", diz o prefeito. "O novo recurso é bem-vindo. Eu não tenho nenhum terreno de futebol para os jovens. A sinalização é algo que custa os olhos da cara: nós vamos instalar um grande painel com um mapa na entrada da vila. E ainda poderemos continuar a reforma dos vitrais da nossa igreja do século 15. Além disso, com os aerogeradores ou turbinas eólicas, nós tivemos de ampliar as estradas da comunidade em quatro metros, e vamos precisar garantir a sua manutenção". O prefeito também pretende ajudar os mais pobres dos seus 550 administrados a pagarem pela renovação do saneamento básico individual da sua casa, que é obrigatória.
O projeto, que foi encampado com entusiasmo pelo prefeito, não suscitou praticamente nenhuma crítica na vila. A Enertrag, que investiu 16 milhões de euros (R$ 40,72 milhões) no parque eólico, espera uma rentabilidade média que ultrapasse 10% por ano.
O desenvolvimento da energia eólica representa um bom negócio, tanto para as comunas quanto para as companhias que o empreendem. Embora a eletricidade produzida pelo vento esteja entre as mais caras, a sua rentabilidade está garantida por uma taxa incluída nas contas de todos os assinantes. O objetivo é incentivar o crescimento desta energia renovável.
Mas será que aquilo que é bom para as comunas e para as empresas também é benéfico para a coletividade? Os aerogeradores serão mesmo um meio eficiente de lutar contra o aquecimento climático? A resposta parecia ser, evidentemente, sim. Isso até a publicação de um
estudo realizado pela Federação do Meio Ambiente Sustentável, a qual agrupa associações que se opõem aos aerogeradores, que vem arremessar um tijolo na vidraça do ecologicamente correto.
O autor do estudo, Marc Lefranc, vice-presidente da federação, comparou a evolução das emissões de CO2 (gás carbônico), o principal gás do efeito estufa, dos países que mais desenvolveram os aerogeradores na Europa. Uma vez que os aerogeradores não emitem CO2, esses países deveriam apresentar um balanço particularmente favorável.
Contudo, os números do serviço europeu de estatísticas Eurostat mostram que a Alemanha, apesar de possuir um parque eólico de mais de 18.000 MW, não viu as emissões de CO2 por habitante, provenientes do setor da energia, diminuirem, mas, ao contrário, aumentarem em 1,2%, entre 2000 e 2005. A Espanha, com mais de 10.000 MW, conheceu um aumento de 10,4% da sua produção de CO2 no mesmo período.
A Dinamarca, campeã mundial dos aerogeradores, considerando-se a sua população reduzida, registra uma diminuição de 11% da sua produção de CO2. Mas, de fato, como observa Marc Lefranc, a duplicação das importações de eletricidade da Dinamarca explica em grande parte este bom resultado. No total, segundo o documento, o desenvolvimento da energia eólica apresenta um balanço "muito decepcionante do ponto de vista econômico e ambiental".
Mas é preciso levar em conta as circunstâncias. A Espanha conheceu de fato um desenvolvimento econômico muito importante, que gerou uma expansão considerável do consumo de eletricidade. A Alemanha incorporou a sua parte oriental, cujo consumo de eletricidade aumentou substancialmente em função do seu esforço para alcançar o nível da parte ocidental. Nesse contexto, é importante se perguntar se, sem aerogeradores, as suas emissões não teriam sido ainda mais elevadas.
Mas o estudo coloca em destaque uma questão que, de maneira surpreendente, foi negligenciada pelas instituições ligadas ao setor energético: em qual medida a energia eólica pode reduzir as emissões de CO2? A Agência Internacional da Energia (AIE) permanece muda a este respeito; a Agência do Domínio da Energia (Ademe) não fornece resposta alguma. Uma análise chegou a ser realizada indiretamente, na França, pela Rede de Transporte de Eletricidade (RTE), em relação ao problema da inconstância no fornecimento de eletricidade pelos aerogeradores. Isso pode obrigar a recorrer a centrais térmicas quando os picos de consumo, durante o inverno, se combinam com a ausência de vento. De fato, como observou a RTE em 2007, em seu relatório de perspectivas, as "demandas de potência a serem atendidas pelos equipamentos térmicos" vêm aumentando "de maneira cada vez mais conseqüente à medida que o parque eólico vai crescendo".
Os especialistas favoráveis à energia eólica encontram dificuldades para responder à pergunta colocada pelo estudo da Federação do Meio Ambiente Sustentável. "Se o consumo aumenta quando a população aumenta, isso acaba absorvendo o pequeno ganho permitido pela energia eólica", observa Pierre Radanne, um especialista independente. "Com certeza, se esforços não forem realizados para economizar energia, a energia eólica não servirá para nada", diz Raphaël Claustre, diretor do Centro de Interligação das Energias Renováveis.
"Reduzir os diversos tipos de consumo"De fato, a energia eólica não tem sentido a não ser no quadro de uma política global de energia que vise a dominar o consumo de eletricidade: "A primeira coisa a fazer é reduzir os diversos tipos de consumo", comenta Jean-Louis Bal, encarregado das energias renováveis na Ademe, "mas ninguém se habilita a fazê-lo".
Este raciocínio é confirmado por Jean-Marc Jancovici, engenheiro e membro do comitê de vigilância ecológica da Fundação Nicolas Hulot: "O que se verifica na Alemanha e na Espanha é que o fato de dispor de energias renováveis em maiores quantidades não significa necessariamente um uso menor de combustíveis fósseis. De fato, os promotores da energia eólica vêm fazendo o mesmo que os promotores da energia nuclear: eles incentivam uma política de oferta, ao passo que é uma política da demanda que se revela necessária. Com isso, mais vale convencer a sociedade a aceitar um aumento do preço da eletricidade, que a motivará a reduzir o consumo, do que desenvolver a energia eólica".
Enquanto está prevista uma produção de 7.000 MW de energia eólica na França em 2012, o parque de centrais térmicas a gás deverá também aumentar em cerca de 10.000 MW. Um exemplo deste paradoxo pode ser encontrado perto de Saint-Brieuc (Côtes-d'Armor, Bretanha), onde a companhia Gaz de France planeja a construção de uma central a gás de 232 MW enquanto a Poweo prepara um parque eólico de uma potência comparável no mar. Uma expertise que foi realizada a pedido dos eleitos mostrou que com isso, haverá muito mais energia do que o departamento realmente precisa.
"Os aerogeradores me lembram muito os biocombustíveis da primeira geração", explica Marc Lefranc. "No começo, todos pensavam que eles representavam um avanço; mais tarde, quando foi feito o balanço ambiental, todos se deram conta de que os seus supostos benefícios eram muito discutíveis. Em relação à luta contra a mudança climática, a primeira coisa a ser feita é implantar as técnicas de economias de energia. Então, numa segunda etapa, será preciso hierarquizar as energias renováveis para investir com bom senso".
(Por Hervé Kempf, Le Monde, Tradução de Jean-Yves de Neufville,
UOL, 15/02/2008)