Mosquitos não podem portar os dois vírus ao mesmo tempo
Parece ironia, mas o vírus da dengue pode proteger a população urbana da febre amarela, segundo aponta pesquisa realizada na Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto. O estudo foi iniciado há três anos e concluído recentemente.
— Esse estudo mostrou e comprovou isso, mas in vitro, ou seja, em laboratório, não em organismo vivo — avisa o professor do Departamento de Clínica Médica e chefe do Laboratório de Virologia Molecular, da Faculdade de Medicina da USP, Benedito Antonio Lopes da Fonseca.
O próximo passo então, para comprovar essa proteção, seria uma pesquisa em mosquitos vivos, um processo difícil e complicado. Não existe na USP de Ribeirão Preto uma infra-estrutura para manter mosquitos Aedes aegypti (transmissor das duas doenças) vivos e infectados com a dengue para se injetar o vírus da febre amarela. Por isso, Fonseca e Emiliana Abrão da Costa, sua aluna de doutorado, usaram células cultivadas em laboratório (do mosquito Aedes albopictus, primo do aegypti), que crescem em frascos especiais, sem a formação do mosquito.
O fato de serem da mesma família levou Fonseca a levantar a hipótese de competição entre os vírus nos insetos. E, durante o experimento, feito por Emiliana, foi constatado que há interferência do vírus da dengue nas células de mosquitos infectados pela febre amarela. Ou seja, num combate dentro do mosquito, o vírus da dengue sairia vitorioso sobre o rival da febre amarela.
(Diário Catarinense, 14/02/2008)