"Céticos" do clima entregam relatório a ministro e dizem que Terra vai esfriar
Um grupo de cientistas entregou ontem ao ministro Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia) documento que questiona a influência da ação humana nos fenômenos das mudanças climáticas globais.
"A conservação ambiental não tem nada a ver com o aquecimento global, esta é a nossa principal mensagem", disse Luis Carlos Molion, diretor do Instituto de Ciências Atmosféricas da Ufal (Universidade Federal de Alagoas). Os integrantes do grupo afirmam ser "céticos sobre a existência do aquecimento global".
Os dados apresentados ontem fazem parte do projeto internacional Cloud, que reúne 24 instituições de ensino universitário de dez países para analisar a influência de raios cósmicos na atmosfera e no clima da Terra.
Baseados em dados desta iniciativa, os signatários do relatório entregue ao MCT afirmam que dentro de 20 anos a temperatura do planeta estará mais baixa e questionam as conclusões do IPCC, o painel da ONU sobre mudança climática que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2007. Os dados do painel seriam "alarmistas" e o Protocolo de Kyoto, "inútil".
"O que nós queremos é mais democracia para debater o assunto, só uma voz tem lugar na imprensa hoje", afirmou o economista Mark Lund.
Os pesquisadores disseram que pretendem organizar seminários em São Paulo para debater publicamente a teoria.
O IPCC, dizem os "céticos", não levaria em conta dados sobre o comportamento da temperatura do planeta há centenas ou milhares de anos e partiria de premissas equivocadas. "Há interesses financeiros por trás do IPCC, a gente não consegue trazer a verdade", disse Fernando Mendonça, ex-presidente do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
O aumento da concentração de gás carbônico na atmosfera, afirmam, seria resultado, e não causa, da elevação da temperatura. O aquecimento da atmosfera, segundo o documento, é fruto dos raios cósmicos.
Para José Carlos Azevedo, ex-reitor da UnB e um dos autores do documento, o encontro com Rezende foi "bom para iniciar o debate". "A receptividade foi muito boa, o ministro é um homem esclarecido, físico pelo MIT [Instituto de Tecnologia de Massachusetts].
Rezende não quis falar com a imprensa após encontro. Assessores do ministro afirmaram que as informações recebidas já foram encaminhadas ao IPCC, que deve debater a validade da teoria apresentada.
Climatologista ratifica culpa do carbono
Tirar a culpa do gás carbônico e colocar na radiação cósmica para explicar o aquecimento global não procede, afirma Pedro Dias, diretor do LNCC (Laboratório Nacional de Computação Científica) e integrante do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas). "Não há dúvida de que a única explicação para o aumento das temperaturas nas últimas décadas é o carbono antrópico, vindo dos combustíveis fósseis e do novo uso da terra." O cientista diz que existe um grau limitado de incerteza nos dados do IPCC, mas o painel considera também a variabilidade natural do clima.
(Iuri Dantas, Folha de São Paulo, 15/02/2008)