A União Européia (UE) rejeitou mais uma vez a lista de fazendas certificadas pelo Brasil para exportar carne bovina. Na quinta-feira (14/02), em Bruxelas, representantes do governo brasileiro entregaram à Comissão Européia uma lista com 523 propriedades que poderiam vender o produto. O Estado apurou, porém, que a lista não tem base técnica e que alguns nomes teriam sido mantidos por pressão política. Para completar, o número de gado em cada fazenda foi modificado.
A primeira rejeição aconteceu em 30 de janeiro, quando a UE suspendeu por tempo indeterminado toda a importação de carne bovina brasileira. Aquela decisão foi tomada depois de uma disputa em relação ao número de fazendas que o Brasil teria direito de certificar. Os europeus indicaram que poderiam aceitar a carne de 300 propriedades, entretanto, o País apresentou uma lista com 2.861 propriedades.
A lista apresentada nesta quinta-feira, além de indicar um número superior ao total aceito pela União Européia, apresentou problemas de informação que irritaram os europeus. Eles pediram que o Brasil voltasse amanhã, dia 15, aos escritórios da Comissão com uma lista revisada e deixaram claro que somente aceitariam certificar 300 propriedades.
Oficialmente, o gabinete do comissário de Saúde e Proteção do Consumidor da UE, Markus Kyprianou, optou pelo sigilo sobre o conteúdo da conversa. "Vamos continuar as reuniões amanhã", afirmou a porta-voz da Comissão, Nina Papadoulaki. Fontes que estiveram nos encontros, porém, admitiram que o clima não é bom e que a credibilidade do País está afetada.
Bruxelas, depois de dois anos alertando sobre as condições sanitárias da carne brasileira, decidiu no final do ano passado exigir que o País apresentasse uma lista de 300 fazendas que teriam o direito de exportar e que fosse garantida a rastreabilidade do gado. O temor dos europeus é quanto à febre aftosa.
Problemas na lista - Diplomatas revelaram ao Estado que, na véspera, técnicos do governo tentavam montar a lista e retirar fazendas com base em questões meramente burocráticas (como a existência ou não do CPF do dono do estabelecimento), sem levar em conta a situação sanitária do gado. No início da manhã desta quinta, e depois de muitos telefonemas entre Brasília e Bruxelas, pressões e tensões, a lista continha 523 fazendas.
Mas para a surpresa dos europeus, alguns dos nomes sequer estavam em listas anteriores. Para complicar ainda mais a situação, o número de cabeças de gado por fazenda era diferente do que o Brasil havia apresentado em janeiro, o que deixou o Itamaraty furioso com o Ministério da Agricultura. O governo acabou reconhecendo durante a reunião com os europeus que, de fato, nem todas as fazendas na lista inicial estavam 100% verificadas.
Um novo encontro está marcado para esta sexta-feira (15). Os europeus deixaram claro que, se o Brasil não apontar as 300 fazendas que receberão o certificado, caberá a Bruxelas escolher.
A Comissão também quer discutir como será a missão dos veterinários europeus ao Brasil. A viagem começa no dia 25 e tudo indica que Bruxelas pretende visitar 10% das 300 fazendas escolhidas. Com base nessa visita, então, os veterinários vão sugerir se o embargo deve ser mantido ou se o comércio pode voltar a ocorrer.
Lista Política - Fontes do próprio governo brasileiros admitiram ao Estado que a lista apresentada em janeiro, assim como a de hoje, não tinham como base apenas aspectos técnicos ou sanitários. O Ministério da Agricultura teria sido pressionado por certos fazendeiros a ter suas propriedades incluídas e mesmo adulterando o número de cabeça de gado em cada uma delas. Os europeus questionaram diretamente essas mudanças e pediram explicações.
Segundo a missão brasileira, os representantes do Ministério da Agricultura continuariam trabalhando em uma nova lista na noite de hoje para ser apresentada amanhã a Comissão. A esperança é de que seja a última lista e que os termos das inspeções sejam acertados.
(Estadão Online,
Ambiente Brasil, 15/02/2008)