A aplicação do Atlas de Desenvolvimento do Semi-Árido do Nordeste, divulgado no ano passado pela Agência Nacional de Águas (ANA), seria a forma ideal de suprir as necessidades de água na região.
A opinião é do bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, que participa de audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado para discutir o Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional.
Segundo dom Cappio, as ações previstas no atlas podem beneficar 44 milhões de pessoas, quase quatro vezes mais do que os 12 milhões previstos com a transposição do Rio São Francisco.
Ao começar sua participação nos debates no Senado, o bispo afirmou que representa as populações indígenas, quilombolas, brasileiros e brasileiras que se preocupam com a vida.
Para dom Cappio, o projeto de transposição é um modo retrógrado de gestão da água, não representa o desenvolvimento que se deseja para o Nordeste. Segundo ele, o atlas é o projeto ideal, mas o governo considera o trabalho da ANA como um complemento da obra de transposição.
O bispo afirmou que nunca houve diálogo do governo com a população civil sobre a obra e que a população difusa do Nordeste vai continuar marginalizada do acesso à água. Para ele, a população urbana vai ter que pagar o elevado custo do acesso à água. “É o pobre colocando a mesa para o rico. Privilegia-se o grande em detrimento do pequeno”.
Segundo dom Cappio, a rota da água passa a centenas de quilômetros das regiões mais necessitadas. Ele afirmou que o projeto ignora 34 povos indígenas, 156 comunidades quilombolas “e um sem número de populações ribeirinhas”.
O Atlas de Desenvolvimento do Semi-Árido do Nordeste é um documento produzido durante três anos. Traz um diagnóstico dos sistemas de rede de distribuição de água e dos mananciais (fontes, rios e reservatórios) de cerca de 1,3 mil municípios nordestinos com mais de cinco mil habitantes.
Além disso, apresenta alternativas para cada um deles solucionar o problema do abastecimento, via adutoras, águas subterrâneas ou através da captação em rios e reservatórios.
(Por Kelly Oliveira,
Agência Brasil, 14/02/2008)