Chegou o momento de dar um basta definitivo. Já faz parte do inconsciente coletivo da humanidade a certeza de que a Amazônia deve permanecer em pé. É claro, transparente e cristalino que nenhuma árvore deve cair mais, sob qual argumento seja. Nada justifica a perda de qualquer cobertura vegetal adicional para abrir espaço para o aumento da área de cultivo de soja ou pasto para gado. Aos que chamam isso de desenvolvimento, eu acrescentaria um adjetivo: catastrófico. Desenvolvimento catastrófico.
A continuação desse processo, sob a vigilância condescendente da lei, é intolerável. Basta de políticas e medidas emergenciais. Basta de controles inoperantes. Basta de discursos esvaziados. Basta de esquizofrenia governamental. A consciência planetária exige, com E maiúsculo, a imediata interrupção do uso das motosserras na Floresta Amazônica.
É inadmissível qualquer tolerância com a destruição, que interessa a alguns, mas que não interessa à humanidade. Por sorte, a Amazônia se encontra no Brasil e nos foi entregue para zelarmos pela Mãe Natureza: cabe a nós a responsabilidade de tomar as atitudes enérgicas, definitivas, para a sua preservação. Gado e soja, só onde as áreas já foram abertas. No restante, devem ser permitidas apenas atividades que conservem a floresta in totum.
Para aqueles que justificam as derrubadas dizendo que a exploração sustentável da floresta ainda é algo não totalmente claro, respondamos: na dúvida, stop. Deixemos essa decisão para as futuras gerações. Não temos o direito de liquidar com esse patrimônio.
O desmatamento da Amazônia é tratado pelas autoridades com a mesma leviandade com que é tratada a questão aérea. Indignamo-nos, com toda a razão, quando assistimos ao esfacelar de toda a reputação aérea de que desfrutávamos na década de 70. E mais: acompanhamos, pasmos, a inação de toda a série de órgãos criados para disciplinar e monitorar a aviação e sua segurança.
Neste caso, ao menos, a população usuária ainda chega a protestar timidamente. E muito timidamente. No caso da Amazônia, nem pia. A não ser por algumas ONGs, a floresta se encontra quase totalmente desapadrinhada. Movimentos sociais exigindo sua preservação estão ainda na pré- nfância. Parece que não caiu a nossa ficha. Enquanto isso a motosserra canta entre araras e uirapurus.
Até agora os programas de TV não trouxeram para entrevistas os dirigentes das empresas de agronegócio, de criação extensiva de gado ou grandes madeireiras. Óbvio, pois o negócio deles não é legal (entenda caro leitor, por si próprio, qual ou quais acepções desta palavra aqui cabem). Isto apenas confirma que estas empresas estão em desacordo com a sociedade e com a comunidade global. Papel do governo: repressão dura. Não com medidas paliativas, anúncios espalhafatosos e pouca eficiência. Não é com três fiscais e nenhum veículo em Alta Floresta que vai se resolver o problema.
(Por Edgar Werblowsky*,
Envolverde, 14/02/2008)
* Edgar Werblowsky é diretor-presidente da Freeway Brasil e vice-diretor do TOI – Tour Operator Initiative for Sustainable Tourism Development – UNESCO – UNEP – UNWTO, comissão de turismo sustentável ligada à ONU