O projeto de transposição do Rio São Francisco "foi evoluindo" até se transformar em uma proposta merecedora de apoio. A afirmação foi feita pelo ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, em audiência pública no Senado para debater sobre o projeto de transposição do Rio São Francisco.
No discurso, o ministro citou o senador Cesár Borges (PR-BA) que o criticou por ter mudado de posição em relação ao projeto de transposição do Rio São Francisco. Segundo o ministro, as pessoas têm o direito de mudar de idéia, depois de ouvir argumentos.
O senador respondeu que tem o ministro como "pessoa séria e não leviana", que se posicionou contra o projeto, inicialmente, por conhecer as falhas. O senador acrescentou que Geddel mudou de opinião pelo "Diário Oficial, quando foi nomeado ministro". O presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho, tentou impedir que a discussão continuasse, mas o ministro respondeu que não acreditava que o senador tenha mudado de partido "por Diário Oficial".
Geddel também afirmou que não tem nada pessoal contra o bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, que é contrário à tranposição. Ele disse que as diferenças entre os dois se restringem ao campo das idéias.
O ministro também rebateu a afirmação do bispo de que as obras de revitalização estão paradas. Segundo ele, estão sendo realizadas obras de esgotamento sanitário, replantio de matas ciliares, recuperação de microbacias, entre outras. O ministro acrescentou que, ao contrário das afirmações dos críticos, o governo também está investindo na construção de cisternas e perfuração de poços artesianos "onde é possível".
De acordo com o ministro, o projeto vai oferecer segurança hídrica ao semi-árido nordestino, ou seja, garantir que se tenha água. Ele argumentou que açudes não oferecem essa segurança porque apenas cerca de 20% da água acumulada são aproveitados, devido ao processo de evaporação característico da região. Ele citou a expressão citada por moradores da
região de que no semiárido "chove mais para cima do que para baixo".
Geddel disse ainda que o projeto, além de suprir o consumo humano e animal de água, também visa o desenvolvimento integrado da região. "Ninguém vive só bebendo água" Ele disse ainda que é evidente que a obra vai beneficiar empreiteiras, porque são elas que vão fazer as construções. Segundo ele, o que se tem que observar é se as empreitaras estão sendo beneficiadas da forma correta.
Geddel disse ainda que o governo enfrentará as críticas, como representante legítimo dos brasileiros e brasileiras. O bispo, que falou antes do ministro, disse que era representante de índios, quilombolas, brasileiros e brasileiras que se preocupam com a vida.
Enquanto falava em favor do projeto de transposição, o deputado e ex-ministro da Integração Nacional Ciro Gomes (PSB-CE) cobrou atenção do bispo. "Olhe para mim, dom Cappio". Ciro afirmou ainda que não era possível "opor superioridade moral". "Não é possível que vossa excelência [dom Cappio] se considere intérprete superior do valor moral
e ponha um modesto militante de 30 anos de vida pública, a partir de uma base nordestina, como alguém que esteja com interesses subalternos".
Segundo Ciro Gomes, todos os projetos de integração de bacias no Brasil e no mundo geraram polêmica. Ele citou o exemplo de São Paulo que, conta com a transposição de mais de 70% da vasão do Rio Piracicaba.
(Por Kelly Oliveira, Agência Brasil, 14/02/2008)