Uma rápida visita e uma conversa com moradores da Barra do São Gonçalo já são suficientes para perceber os danos que a falta de energia elétrica provoca na região. Pescadores com problemas para armazenar o peixe, donos de comércio vendendo bebidas quentes e donas-de-casa que não têm como conservar os alimentos são apenas alguns exemplos que demonstram a precariedade de um lugar em que a tecnologia ainda não chegou. Baterias e velas são objetos comuns no dia-a-dia da população que vive às margens da laguna.
De acordo com os moradores, vários pedidos já foram feitos à Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE). “Nós já cansamos de pedir energia elétrica para a nossa região, mas eles sempre nos enrolam. Agora, estão dizendo que é responsabilidade do Ibama, por ser uma área ecológica”, disse o dono de um bar, Pedro Mauro, de 32 anos, que vive há seis na região.
Com a falta da energia elétrica, a população se vira como pode para suprir a ausência. O pescador Washington Borges, de 38 anos, diz que utiliza bateria ou vela para ter iluminação em casa. “Geralmente uso bateria ou vela, mas é complicado, pois a bateria dura só dois dias e depois tem que recarregar, e custa R$ 3,50”, explicou ele, que vive há cinco anos na Barra.
40 anos às escuras
Se quem vive a pouco tempo no local já reclama da falta de energia elétrica, imagine alguém que mora na Barra do São Gonçalo há 40 anos? É o caso do pescador Claudionor Cleff Sanches, o Dodoce, de 63 anos. Ele conta que desde que se instalou no local as promessas para instalação de luz elétrica foram muitas. “Desde que eu cheguei aqui, há 40 anos, eles falam que vão colocar luz, mas até agora, nada”, desabafou. Ele revela, ainda, uma promessa feita antes do fim do ano. “Sabe o que eles me disseram? Prometeram que passaríamos o fim de ano com luz”, disse.
O máximo que o pescador conseguiu foi um sistema de iluminação solar, que recarrega as baterias através da energia do sol, mas ele diz que a luz gerada pela bateria não é suficiente para resolver o problema. “A bateria serve para quebrar o galho, mas não soluciona a falta do freezer, então nós temos que comprar muito gelo para armazenar nosso pescado, e o gelo não é barato”, disse.
A palavra da CEEE
Conforme o gerente da regional sul da Companhia Estadual de Distribuição Energia Elétrica (CEEE-D), Manoel Britto, o Projeto referente à obra no Pontal da Barra, praia do Laranjal, foi protocolado na Secretaria Municipal de Habitação no mês de outubro do ano passado. “Tão logo obtivermos a licença, executaremos a obra”, afirmou. Ainda de acordo com Britto, a implantação da rede elétrica no Pontal da Barra depende da licença da Prefeitura, porque a estrada é municipal. “Embora a área seja de preservação ambiental, o Ibama remeteu à prefeitura este licenciamento”, concluiu.
A palavra da Secretaria de Habitação
Segundo o secretário de habitação, Luiz Antônio David Brandão, o projeto no Pontal da Barra está, sim, protocolado na secretaria, mas existe discordância com a CEEE. “Nós queríamos passar uma rede que iria direto para o fundo, lá onde vivem os pescadores da Barra do São Gonçalo, mas assim a CEEE não quer. Eles querem que a rede passe pela rua principal, mas para isso acontecer é necessário que haja a remoção dos moradores da beira da praia, que se alojaram ali. Inclusive já há uma ação para a saída deles dali”, explicou. O secretário disse, ainda, que entre os moradores da beira da praia apenas uma minoria é de pescadores, e esses permanecerão vivendo ali, caso alguns sejam removidos.
(Por Antônio Neto, Diário Popular, 14/02/2008)