Piche suja areia em Itaguaçu, Enseada, Ubatuba e Forte e causa transtornos aos banhistas

Mais um vazamento dos tanques do comboio de carga da empresa de navegação Norsul, que tombou perto da costa há 15 dias, levou novamente, ontem, manchas à areia e cheiro de óleo para quatro praias de São Francisco do Sul. Um ponto central da praia de Enseada chegou a ser isolado com uma faixa de proteção. Bombeiros alertaram banhistas sobre o risco do banho de mar.

Incerto

Ainda não há análises de água que indiquem a composição do óleo derramado

Também havia óleo nas areias nas praias do Forte, Ubatuba e Itaguaçu. As águas das praias de Ubatuba e Itaguaçu estavam escuras, com uma espuma densa de tom marrom. Poucos se aventuraram a entrar na água.

Apesar das reclamações dos banhistas, a Prefeitura decidiu não interditar nenhuma das praias. Ontem, o secretário do Meio Ambiente, Cláudio Folda Júnior, vistoriou as praias onde já foi encontrado óleo. Em reunião terça-feira com representantes da Norsul, da Fatma e do Ibama, a Prefeitura foi aconselhada a instalar placas de aviso aos banhistas. A medida seria necessária porque ainda não há análises de água que indiquem a composição do óleo derramado.

Segundo a Norsul, havia quatro tipos de óleo nos tanques – que somam 124 metros cúbicos – da embarcação no momento do acidente. São 90 metros cúbicos de óleo bruto (o piche), além de diesel, lubrificante e residual. Ainda assim, ontem não havia avisos nas praias. Na sexta-feira, a Fatma divulga relatório que avalia se a balneabilidade das praias foi afetada.

A companhia de navegação diz que o derramamento resulta do trabalho normal de retirada. A movimentação dos cerca de 50 barcos de apoio e dos mergulhadores contribui para que o óleo vaze. A barreira de contenção erguida em torno da embarcação falha quando há mar agitado e altas da maré. A Norsul afirma que, sem condições de navegabilidade, é difícil fazer a contenção e impedir que o óleo chegue às praias. O mesmo ocorre durante a noite.

Quando há vazamentos, só resta fazer a limpeza pela manhã. Não se pode medir quanto sobra de óleo e novos vazamentos não estão descartados. Pelo menos enquanto durar o processo de retirada, que deve levar uma semana. É a primeira etapa do processo de remoção do empurrador e da barcaça, previsto para durar cerca de cinco meses.

A família de Leide da Silva cedeu aos pedidos do caçula Gabriel, nove anos, e tomou banho de mar. Logo saíram da água. "Tá feio. O cheiro é ruim e olha como fica o pé", disse, mostrando manchas de piche.

Como há cinco anos, a comerciante gaúcha Carmem Schaefer surfou de bodyboard em Ubatuba. "Estou há três dias com essa mancha de piche no pé. Dizem que sai com óleo de cozinha, mas é um troço 'trixarope'", classifica, com uma gíria do Estado vizinho. O estudante Eduardo Oliveira, 14 anos, reclamou. "O corpo fica oleoso e a água está fedida. Hoje (ontem) está bem pior que antes", compara.

Situação ontem

Praia do Forte
Com marcas de piche na faixa de areia, até o final do dia, principalmente ao lado do Forte Marechal Luz e na outra ponta. No fim da tarde, metade da praia estava limpa. Havia resíduos de óleo em piscinas naturais.

Itaguaçu
Água estava vermelho escura. A espuma formada pelas ondas era marrom e deixava a pele grudenta. Mesmo depois de limpa, havia piche na areia e nas rochas.

Ubatuba
Situação idêntica à de Itaguaçu. A maresia trazia cheiro de óleo.

Enseada
Parte da praia, em volta da Casa do Pescador, foi interditada com faixas. Cheiro de óleo. Banhistas saíam da água com marcas de piche. Areia foi limpa, mas vestígios de piche eram trazidos a cada onda até o final da tarde.

Capri
Estava limpa, apesar de vestígios de óleo no canal do Capri. Marcas do piche recolhido deixaram a areia escura em alguns pontos. Areia foi limpa com rastelo pela manhã.

Outros registros de óleo nas praias
Itapoá, no balneário de Uirapuru, em 1º de fevereiro
Enseada, em 6 de fevereiro
Capri, Forte e Praia Grande, em 9 de fevereiro
Ubatuba, em 9 de fevereiro
Itaguaçu, em 9 de fevereiro

(Camille Cardoso, A Notícia, 14/02/2008)