A escala verdadeira de emissões de gases do efeito estufa provocadas pela navegação é quase três vezes maior do se previa anteriormente, informa um estudo das Nações Unidas a que o jornal britânico The Guardian teve acesso. Calcula-se que as emissões anuais da frota mercante mundial sejam de 1,12 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) – cerca de 4,5% do total de emissões globais desse gás.
Em março de 2007, o jornal já havia alertado para o crescimento das emissões no setor, apresentando dados de pesquisas independentes que apontavam um crescimento de 75% nas emissões de CO2 provenientes de embarcações nos próximos 15 a 20 anos, caso medidas drásticas não fossem tomadas. Os navios são responsáveis por transportar 90% das mercadorias resultantes das negociações mundiais e, nos últimos 25 anos, os despachos marítimos dobraram de volume.
O relatório da ONU sugere que as emissões da navegação – que atualmente não são contabilizadas nas cotas de combate ao aquecimento global – tornar-se-ão uma das maiores fontes isoladas de CO2, depois das provenientes de carros, residências, atividades agrícolas e indústrias.
Para se ter uma comparação, a indústria da aviação – que sofre forte pressão para se tornar mais limpa – é responsável por emitir cerca de 650 milhões de toneladas de CO2 por ano, praticamente a metade do volume produzido pela navegação.
Até agora, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU estimava as emissões das atividades aquaviárias em, no máximo, 400 milhões de toneladas. O rascunho do novo relatório, produzido por um grupo internacional de cientistas, no entanto, apresenta uma mensuração mais sofisticada, com a utilização de dados pelas indústrias de óleo e de navegação para a Organização Marítima Internacional (agência da ONU responsável por monitorar poluição causada por navios).
O documento não demonstra apenas que as emissões são muito piores do que se temia, como alerta para a projeção de aumento em mais 30% das emissões de CO2 até 2020.
Ao avaliar o relatório, a presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, afirma que “há um erro claro no sistema” e que a indústria naval vem há tempo se escapando de publicidade, o que contribuiu para ter ficado de fora das discussões sobre mudanças climáticas. “Eu espero que as emissões da navegação sejam incluídas no texto do novo acordo da ONU; seria um lapso não fazê-lo. Para mim, isso significa que fomos ineficientes ao atacar as mudanças climáticas até agora”.
O diretor de Meio Ambiente de uma companhia marinha, Donald Gregory, explica que a estimativa é de que a frota global de 70 mil navios consumam aproximadamente 200 milhões de toneladas de combustível ao ano e que a expectativa é de que cresça para 350 milhões de toneladas por ano até 2020. “Os navios estão ficando maiores e todas os estaleiros do mundo estão com os livros de pedidos cheios. Há cerca de 20 mil novos navios para serem construídos”, diz.
“A Organização Marítima Internacional precisa elaborar uma estratégia para as emissões, ou isso cairá sobre nós”, enfatiza Gregory. “A aviação está na linha de frente agora, mas o transporte marítimo precisa assumir responsabilidade”, completa.
A pressão agora deverá realmente ser maior sobre os proprietários de embarcações, para que utilizem melhores combustíveis; assim como sobre a União Européia, para que inclua a navegação no seu esquema de negociação de carbono, como foi feito com a aviação.
As tentativas anteriores de se calcular os níveis de emissão eram baseadas geralmente na quantidade de combustível comprada pelos donos de barcos e navios. O documento da ONU é considerado mais preciso porque toma como base o tamanho do motor das embarcações, o tempo que elas permanecem no mar e a quantidade de combustível adiquirida pelos proprietários.
(Por Sabrina Domingos, do
Carbono Brasil, com informações do
The Guardian, 12/02/2008)