Na próxima quinta-feira (14/02), a presidente da Argentina, Cristina Fernández Kirchner, se reunirá com a Assembléia de Gualeguaychú (AG) para tratar sobre os conflitos com Uruguai, gerados pela instalação da papeleira Botnia, às margens do rio Uruguai, em Fray Bentos. Segundo informações divulgadas nos meios de comunicação, CFK manterá a posição de que o assunto está determinado pela resolução que a corte internacional de La Haya definir, enquanto que a AG afirma que "Não sairemos da ponte até que Botnia se vá".
A possível variação da posição na Assembléia é que apareceram algumas declarações que se a decisão de La Haya for favorável para a Argentina e devem se retirar a ponte, eles seguirão o protesto com outros métodos. Até agora era certa a decisão de que não sairiam da ponte que há 15 meses corta o acesso para Paysandú, Uruguai.
A esta altura dos acontecimentos, é possível detectar uma série de dados que ilustram a complexidade do tema. A AG alega que o trâmite para La Haya chega com três anos de atraso, pois eles reclamaram ainda quando no Uruguai existiam conversas sobre a papeleira, "mas nenhum ladrilho havia sido posto e agora está em funcionamento".
A realidade é que os bloqueios não puderam frear a instalação de Botnia. A empresa tomou as providências para que os materiais necessários chegassem a Fray Bentos usando, inclusive, barcos que transportavam os elementos vindos do Chile, desviando o acesso por Gualeguaychú.
Agora a AG pede que seja aplicado o código de alfândega para que, a partir da Argentina, não se transporte materiais para Botnia. Mas isto também é limitado - se é que se pode aplicar o código - pois elementos primordiais, como o eucalipto, existem no Uruguai e, caso seja necessário, pode-se conseguir através do Brasil.
Por outro lado, o protesto do Uruguai de que o bloqueio afeta o turismo é relativo, pois um relatório proveniente das Migrações de Argentina demonstra que aumentou o turismo - em pelo menos 25% - até o Uruguai, um dado confirmado pela Direção de Turismo Uruguaia.
Nesse panorama, deve-se levar em consideração que a queixa até o tribunal de La Haya é sobre o uso do rio Uruguai e não especificamente sobre a contaminação ou não de Botnia, ainda quando uma decisão desfavorável ao Uruguai poderia, eventualmente, obrigar a desinstalar a papeleira.
A isso se agregam os "acidentes" em Botnia. O pior de todos, o da semana passada no qual morreu um operário que caiu de um andaime e que gerou uma greve do sindicato da categoria. Esses fatos se enquadram dentro da segurança ou não que Botnia ou as empresas terceirizadas oferecem. Mas por mais que sejam graves, ainda não se enquadram no centro das reclamações sobre a contaminação.
(Adital, Ecupres, 12/02/2008)