Ao microfone, o economista senegalês Pierre Sané, diretor-adjunto para a Área de Ciências Humanas e Sociais da Unesco, justificou da seguinte forma sua presença em Porto Alegre:
- Vim de Paris porque as questões que serão discutidas aqui são muito importantes.
Doutor em Ciência Política pela Universidade de Ottawa, no Canadá, Sané participou ontem, na Capital, de uma entrevista coletiva que marcou o lançamento da Conferência Mundial sobre Desenvolvimento de Cidades. À mesa, no quarto andar do Sheraton Hotel, no bairro Moinhos de Vento, também estavam o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, o secretário municipal de Coordenação Política e Governança Local, Cézar Busatto, o diretor da Unesco no Brasil, Vicent Defourny, e o diretor da Divisão de Administração Pública e Gestão de Desenvolvimento do Departamento das Nações Unidas para Assuntos Econômicos e Sociais, Guido Bertucci.
À frase curta, Sané acrescentou outras ponderações que ajudam a dimensionar o que cerca de 5,6 mil inscritos - entre eles, 267 representantes de prefeituras gaúchas e 230 de municípios de outros Estados e países - e 560 painelistas vão debater até sábado nas dependências da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS):
- Sabemos que a maior parte da população vive nas cidades. E sabemos também que boa parte delas vive em favelas. E sabemos ainda que no centro dessas cidades se originam poluição, violência, exclusão e discriminação racial.
Para a conferência, a Organização das Nações Unidas (ONU) enviou alguns de seus quadros mais qualificados. Desembarcam no Aeroporto Internacional Salgado Filho vindos Paris, além de Sané, a especialista de Programas de Desenvolvimento Urbano, Brigitte Collin, e o diretor da Divisão de Ciências Sociais, Políticas e Pesquisa, Vataru Iwamoto, ambos da Unesco. Ao todo, o órgão contará com pelo menos nove representantes na conferência. Completam a delegação dirigentes do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos e do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crimes, mais uma equipe da Rádio ONU, vinda de Nova York.
- A idéia é trocar experiências e ver quais as melhores práticas que as cidades modernas utilizam. Não existem caminhos perfeitos. O que existe é inovação - falou Defourny.
O prefeito de Porto Alegre fez questão de destacar o papel central da ONU na conferência.
- Nós só nos sentimos capazes de levar adiante uma empreitada como essa a partir do momento em que tivemos participação de organismos da ONU - revelou Fogaça, em meio à coletiva.
Algo com dimensão semelhante ocorreu na última edição do Fórum Social Mundial em Porto Alegre, em 2005. Mas as similitudes param aí. A conferência que se inicia hoje, além de contar com um número de participantes menor, tem como foco a apresentação de experiências exitosas de administrações locais. O fórum, cuja hegemonia era de ONGs e partidos à esquerda do espectro político, detinha-se em criticar a globalização e o capitalismo - postura por vezes condenada por intelectuais que propunham ações concretas a partir de discussões. Os debates locais diluíam-se em meio às questões nacionais e internacionais.
- O Fórum foi um evento importante para a cidade, assim como a conferência será. Acho que não dá para fazer comparações entre os dois acontecimentos, mas de certa maneira a conferência vai complementar o fórum - analisa Busatto.
- Queremos constituir uma rede que dialogue entre si e cresça através de experiências que possam ser intercambiadas - complementa Fogaça.
O certo é que, mais uma vez, uma profusão de idiomas e culturas será notada nas ruas e avenidas da Capital.
(Por Carlos Etchichury, Zero Hora, 13/02/2008)