O cultivo de grãos na Amazônia --entre eles a soja, apontada como uma das vilãs do desmatamento-- pode ser uma alternativa para a recuperação de áreas já degradadas da floresta.
Uma tecnologia desenvolvida pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), que consiste na integração de culturas como cultivo de grãos, pecuária e reflorestamento, começará a ser implementada neste mês em fazendas experimentais na região Norte do país. É o chamado Sistema Integrado de Produção. As áreas degradadas são áreas já desmatadas da floresta que foram usadas para pecuária, mas que agora estão abandonadas em decorrência da exaustão do solo aproveitado pelo gado. Para recuperá-las é preciso investimentos altos na adubação e correção da terra.
"Falam que o plantio de grãos pode destruir a Amazônia. Mas o grão pode salvá-la. Acredita-se hoje que grande parte das áreas de pastagens da Amazônia estão degradadas. Estas áreas passam a não suportar mais os animais, o que é um incentivo à abertura de novas áreas na floresta", diz o pesquisador Paulo Fernandes, da Embrapa Amazônia Oriental, com sede em Belém.
Segundo o pesquisador, no cultivo de grãos --apesar de o investimento inicial ser alto- há um rendimento ao final da safra, o que não ocorreria se fosse reintroduzido o capim nas áreas degradadas.
As etapas do Sistema Integrado de Produção são cumpridas em três anos. No primeiro ano, o produtor faz o cultivo de grãos e intercala com o plantio de linhas de árvores, voltadas ao reflorestamento.
No segundo ano, volta a produzir grãos. No terceiro, com as árvores já maiores e sem risco de serem derrubadas pelos bois, o produtor substitui o grão pelo capim. A área de agricultura vira pastagem e recebe novamente o gado. As árvores vão produzir sombra, o que aumenta o conforto térmico do animal e, conseqüentemente, sua produtividade.
Florestas plantadas - Segundo os pesquisadores da Embrapa, a tecnologia pode auxiliar também o cultivo de florestas plantadas na Amazônia, que atenderão à demanda de carvão vegetal da indústria siderúrgica da região de Carajás. "É um sistema ecológico: recupero as áreas degradadas e forneço matéria-prima para indústria siderúrgica de uma fonte sustentável e plantada", explica Paulo Fernandes. "Estou suprindo todos os elos da cadeia e torno a atividade pecuária mais lucrativa, pois de sete em sete anos tenho uma safra de árvores".
Para o pesquisador, o uso do sistema integrado é "o projeto mais ambicioso da Embrapa para a pecuária para a região Norte". Ele diz que a tecnologia é viável economicamente e sustentável ambientalmente. Para o pesquisador, o maior desafio desta tecnologia é fazer com que o produtor, geralmente especializado em uma atividade, qualifique-se também para atuar como agricultor, silvicultor e pecuarista.
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Diário da Notícia/Folha SP, 11/02)