O governo da Bolívia decretou na terça-feira (12/02) estado de calamidade nacional devido às inundações que afetam principalmente a cidade amazônica de Trinidad, que deve ser totalmente desocupada devido ao risco de transbordamento de um dique.
O presidente Evo Morales, que acusa as potências mundiais de serem responsáveis pelos desarranjos climáticos globais, assinou o decreto de calamidade que era solicitado desde a semana passada pelas autoridades e por dirigentes empresariais dos Departamentos (Estados) de Beni e Santa Cruz (ambos na fronteira com o Brasil). Junto com Cochabamba (centro), essas são as regiões mais afetadas pelas inundações e pela destruição de estradas por causa das chuvas dos últimos três meses, consequência do fenômeno La Niña.
As autoridades mobilizaram máquinas pesadas para reforçar o dique de Trinidad, sobre o qual há também uma estrada. Mas isso permitiu apenas um breve alívio na entrada da água, que afeta principalmente os bairros mais baixos da cidade de 95 mil habitantes, capital do Departamento pecuarista de Beni.
Pelo menos 80 mil quilômetros quadrados (pouco mais de um terço do território de Beni) estão embaixo de uma lâmina d'água com até três metros de profundidade, numa das piores inundações da história boliviana. Já houve pelo menos 51 mortos, e mais de 40 mil famílias foram afetadas desde que a Bolívia declarou estar sob efeito do La Niña, em novembro, segundo dados oficiais.
O jornalista local Juan Carlos Zambrana disse no meio da tarde que a água entra pelo dique de Trinidad "de modo lento, mas impossível de conter". De acordo com ele, funcionários municipais anunciaram a entrada em vigor de um plano para elevar em cerca de 60 centímetros metade do dique, que tem quase dez quilômetros de extensão.
"Os técnicos dizem que a inundação exterior chegará até 20 centímetros acima do nível de dois setores do dique, mas esperam que dentro de dois ou três dias se freie a subida das águas", afirmou Zambrana. "Desde que se construiu o dique, há 25 anos, esta é a primeira vez que as águas o superam."
(Por David Mercado, Reuters, UOL, 12/02/2008)