A mesma força que pode causar destruição na erupção de vulcões gera calor e energia para grande parte da Islândia, país famoso pelos gêiseres e que soube tirar o melhor proveito do calor subterrâneo. A nação se orgulha em afirmar que é hoje o único país auto-suficiente em energia renovável, com 100% da eletricidade vindo de fontes limpas e a caminho de deixar o setor de transportes com o mesmo status.

Segundo o professor Bjorn Gunnarsson, diretor acadêmico da Escola de Ciências de Energias Renováveis da Islândia, o uso de energia geotérmica do país é o maior do mundo. “O potencial desta fonte é o maior de todas as renováveis”, afirmou Gunnarsson. A tecnologia geotérmica, apesar de ainda cara, é hoje uma opção aos combustíveis fósseis para geração de eletricidade e aquecimento de residências. Ela consiste no aproveitamento de uma grande quantidade de calor do núcleo da Terra para o aquecimento direto ou resfriamento de edifícios e geração de eletricidade.

Aquecimento e resfriamento
A água quente vinda de poços subterrâneos profundos é estocada em canos sob a superfície da Terra que transfere o calor para o interior de edificações através das paredes e assoalho. Nos meses quentes, o sistema de aquecimento geotérmico é capaz de bombear o ar quente de volta para o solo, o que resfria os edifícios. O mesmo pode ser aplicado para o aquecimento e resfriamento de água.

A tecnologia geotérmica é mais eficiente que aquecedores de combustão para controlar a temperatura porque transfere apenas o calor de um local para outro – em oposição ao outro sistema, que converte um tipo de energia em outro.

A instalação custa cerca de 50 a 100% mais do que um aquecedor de queima de combustível fóssil tradicional. No entanto, o proprietário obtém uma economia de até 70% com o aquecimento, paga 75% menos para a manutenção e, em quatro anos, já recupera o valor pago pelo sistema.  A energia para o funcionamento da bomba geotérmica de baixo consumo energético pode ainda vir do uso de tecnologia solar.

Eletricidade
Para produzir eletricidade, as usinas geotérmicas usam o vapor, naturalmente gerado pela água quente vinda de grandes profundidades da superfície terrestre para mover turbinas. O vapor é coletado e depois reinserido a Terra para continuar gerando energia.

As usinas geotérmicas atuais fornecem eletricidade para cerca de 60 milhões de pessoas, o que equivalente a quase toda a população do Reino Unido. Estas usinas são construídas onde há acesso para reservatórios geotérmicos, o que tipicamente ocorre nas margens de placas continentais com atividade tectônica.

A maioria das usinas geotérmicas do mundo retira o vapor de pequenos reservatórios de água subterrâneos. A temperatura da água varia de 100 a 400 graus Celsius e se mantém no estado líquido por causa da alta pressão que existe neste ambiente. Com o escavamento destes poços, a alta pressão na água é aliviada, provocando a evaporação.

Futuras usinas “Hot Dry Rock” (rochas quentes secas) poderão injetar água dentro de áreas subterrâneas quentes que não possuem umidade, produzindo vapor. O equipamento para realizar esta tarefa é similar ao usado em poços de petróleo com a diferença que de ter um potencial para alcançar maiores profundidades e ser mais largo, para que possa acomodar os ciclos da água.

O Círculo do Fogo no Pacífico, uma zona de vulcões ativos ao redor do Pacífico, possui alguns dos pontos mais quentes do planeta para energia térmica. Tecnologias mais eficientes para canalizar o calor subterrâneo estão ajudando a estender o alcance da geração geotérmica para além do “círculo do fogo”.

“Quando a tecnologia de usinas energéticas foi desenvolvida em 1980 para tirar vantagem de recursos geotérmicos a baixa temperatura, a industria geotérmica foi revolucionada”, observa Alyssa Kagel, autora do relatório “O Estado da Tecnologia Geotérmica Parte II: Tecnologia de Superfície”, da Associação de Energia Geotérmica dos EUA.

O relatório discute novas e subaproveitadas tecnologias – algumas que poderiam revolucionar a indústria como as de recuperação para minerais raros em águas geotérmicas e novos materiais, mais resistentes ao tempo, para usinas energéticas.

Novas turbinas podem retirar energia de águas subterrâneas que não são quentes o suficiente para criar vapor de alta pressão. Em julho, um gerador de 200 kilowatt começou a gerar eletricidade de água a 74 graus Celsius no Alasca, a menor temperatura já registrada.

“A energia geotérmica caminha para a era da renascença”, disse Doug Heffernan, o chefe executivo da Mighty River Power, uma das maiores revendedoras de energia da Nova Zelândia. “Esta é a única renovável que se pode confiar”.

Histórico
Estados Unidos, México, Japão, Filipinas, Quénia, Nova Zelândia e Portugal são, junto com a Islândia, alguns dos países que atualmente produzem eletricidade por meio geotérmico.

A Itália foi o primeiro país a experimentar o uso de fontes geotérmicas para gerar eletricidade em 1904, na cidade de Larderello na região da Toscana. A tentativa, no entanto, foi mal sucedida em função de substâncias químicas contidas no vapor que causavam destruição às maquinas usadas. Somente em 1913, uma estação de 250 kW foi produzida com sucesso e, durante a Segunda Guerra Mundial, 100 MW estavam sendo produzidos, mas a usina foi destruída na Guerra.

A Nova Zelândia foi o próximo país a experimentar, com o desenvolvimento do campo de gases de Wairakei, na Ilha do Norte, por volta de 1950. Dezesseis anos depois, eram produzidos 192 MW, mas hoje em dia este campo está acabado. Somente por volta de 1970, que um campo de gêiseres na Califórnia conseguiu produzir um grande volume de eletricidade - 500 MW.


Energia Geotérmica ao redor do mundo

1.    Os Estados Unidos possuem 86 projetos geotérmicos em desenvolvimento que irão fornecer mais de 3.300 MW de capacidade elétrica. Com isso, o país terá um total de 6.300 MW, o que é suficiente para fornecer energia para seis milhões de casas
2.    A cidade de Unterhaching, na Alemanha, inaugura em maio um sistema geotérmico que irá fornecer água quente para 22 mil residências.
3.    Em Unterhaching, a energia geotérmica será produzida a partir de um gerador de 3,4 MW que será instalado pela gigante de eletrônicos alemã, Siemens.
4.    Na Nova Zelândia, uma usina de 90MW que está atualmente em construção irá custar 194 milhões de dólares e elevará a capacidade geotérmica do país para 25%, produzindo mais energia que todas as usinas eólicas do país combinadas.
5.    Na Islândia, existem cinco grandes usinas de geração geotérmica que produzem 26%(2006) de toda a eletricidade do país. Além disso, o aquecimento geotérmico atende às necessidades de água quente e aquecimento para cerca de 87% da residências.
     
(Por Paula Scheidt, CarbonoBrasil com informações do Globe Net, 11/02/2008)