Investidores institucionais de todo o mundo - responsáveis pela gestão de US$ 57 trilhões em ativos financeiros - querem saber como as empresas de capital aberto estão se preparando para enfrentar as dificuldades e aproveitar as oportunidades geradas pelas mudanças climáticas. Mais de 3 mil companhias em todo o mundo estão sendo convidadas a responder ao questionário do Carbon Disclosure Project (CDP), uma coalizão internacional criada em 2000 com o objetivo de facilitar o diálogo entre as empresas e os investidores, apoiado em informações de qualidade sobre a economia do carbono.
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Fazem parte deste grupo de grandes investidores instituições como Merrill Lynch, AXA, Banco do Brasil, Mitsubishi UFJ, AIG, Barclays, Grupo RBS e HSBC, Legg Mason, Insurance Australia Group e o Florida State Board of Administration, somando este ano 385 investidores institucionais - 34 brasileiros. "Um número cada vez maior de investidores está considerando a questão das mudanças climáticas em suas decisões de investimento", diz Giovanni Barontini, sócio da consultoria Fábrica Ethica Brasil, responsável pela coordenação do projeto no País.
O projeto tem como patronos a Abrapp (Associação Brasileira das Empresas Fechadas de Previdência Privada) e o Banco Real e o apoio do IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) e da Apimec (Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais).
A cada ano a pesquisa amplia seu alcance. Em 2003, quando foi realizado o primeiro levantamento (o CDP-1), eram apenas 35 investidores globais, somando US$ 4,5 trilhões em recursos totais. Estima-se que, dos US$ 100 trilhões investidos nos mais diversos tipos de ativos globalmente, cerca de 3%, ou US$ 3 trilhões, estejam direcionados para investimentos socialmente responsáveis. "Mas a tendência é de que este número aumente cada vez mais", afirma. Barontini, citando dados de uma pesquisa recente realizada pelo CDP com investidores americanos signatários do projeto, para demonstrar a importância do assunto entre os maiores investidores do mundo.
Segundo o levantamento, 60% dos investidores identificaram quais companhias de suas carteiras de investimentos responderam ou não ao CDP, ou estavam fornecendo respostas rasas ou triviais. Os investidores então usaram essas informações para posteriormente engajar as companhias na questão das mudanças climáticas. Outros 26% apoiaram resoluções dos acionistas para melhor transparência sobre mudanças climáticas de algumas companhias que não cumpriram o requerimento do CDP.
Todos os investidores entrevistados concordaram que os dados do CDP constituem um recurso valioso que foi incorporado às suas tomadas de decisões em algum nível do processo.
Companhias chinesas Entre as novidades deste ano está a participação da China. O questionário será enviado às 100 maiores empresas chinesas. Esta é uma questão importante, pois a China é um dos grandes emissores de carbono e será um importante termômetro da disposição das empresas e dos investidores diante do assunto. Também entraram no foco do CDP este ano a Coréia, a Espanha e a Holanda e, na América Latina, as maiores empresas do Chile, Argentina e México.
Segundo Barontini, a principal preocupação do questionário é identificar os fatores que podem afetar o valor de uma companhia, um aspecto fundamental para investidores de longo prazo, como são os institucionais.
Em linhas gerais, as companhias devem responder questões como qual sua emissão total de gases de efeito estufa; quais os riscos e oportunidades legais (por exemplo, se o país ao qual pertence possui limites de emissões de carbono); e quais as medidas tomadas para gerenciar e reduzir emissões. Uma empresa fortemente exportadora, por exemplo, pode vir a enfrentar problemas de mercado, diante do aumento de restrições que já começam a ocorrer em vários países. "Os investidores querem dados concretos que permitam avaliar se a empresa tem sustentabilidade de modo a continuar competitiva, ou seja, se permanecerá como um bom investimento no futuro", diz.
Este ano, visando uma maior participação das companhias, foram enviadas duas versões, uma com padrões mínimos, que todas as empresas devem responder; e outro classificado como resposta completa, que são aquelas perguntas que empresas líderes em setores de alto impacto ambiental devem completar.
Em linhas gerais, o questionário solicita às empresas que mensurem e relatem suas emissões de gases de efeito estufa e informem sobre suas estratégias para lidar com os riscos e oportunidades associados às mudanças climáticas. As empresas têm quatro meses para responder o questionário do CDP e as respostas individuais das companhias serão divulgadas em setembro e estarão acessíveis gratuitamente no site do CDP.
(Por Denise Juliani, Gazeta Mercantil, 11/02/2008)