A água que brota em uma das nascentes do Riacho do Ipiranga, canalizada desde 1942, poderá ser vista de novo a partir de abril no Jardim Botânico. A reforma para trazê-la de volta à superfície começou em novembro passado. O trecho a ser avistado, o Pirarungaua, terá 400 metros de água pura e translúcida, que nasce na Trilha da Nascente do Riacho do Ipiranga e vai até a Avenida Miguel Stefano.
Vera Bononi, diretora do Instituto de Botânica, afirma que a idéia já existia, mas a reforma foi apressada porque, no ano passado, um trecho do terreno sobre o riacho afundou e formou um buraco de 2 metros de comprimento por dois de profundidade. Na época da canalização foram utilizados ferro e tijolos para fazer a galeria. Após 66 anos, o ferro apodreceu, a galeria cedeu e o terreno afundou. A Sabesp detectou que havia risco de desmoronamento.
- Começamos a obra antes do previsto - diz Vera.
A água do Pirarungaua forma os grandes lagos do Jardim Botânico repletos de ninféas. A água sai do parque limpa, mas recebe uma descarga de esgotos quando chega à Avenida Ricardo Jafet. A rede de esgotos do Jardim Botânico também está sendo reformada para que nada caia no riacho.
Uma passarela está sendo feita para que os visitantes do Jardim Botânico possam observar as águas do riacho, que fica logo na entrada. As margens também vão ganhar um gramado.
Nascentes límpidas são uma raridade em São Paulo, onde apenas 10% da água captada pela Sabesp para abastecimento vem de fontes locais. Por causa da poluição das represas Billings e Guarapiranga e do crescimento populacional, a Sabesp hoje capta água em cidades como Piracicaba e até em Minas Gerais para abastecer o estado.
Em novembro, o Jardim Botânico completa 80 anos. Até lá as duas estufas do parque também serão reformadas. Numa delas, há espécies da Mata Atlântica. Na outra, que atualmente está fechada, será criada uma área de cerrado.
- Será um presente aos visitantes do parque neste ano - diz a diretora.
Em 2006, o Jardim Botânico abriu aos visitantes uma área de mata Atlântica que era utilizada somente pelos pesquisadores. Foi criada a trilha da nascente do Riacho do Ipiranga, com 360 metros de extensão, para que as pessoas possam caminhar pelo trecho de mata e observar plantação de palmito, cipós e bromélias.
O parque é uma reserva de mata Atlântica encravada na zona sul da cidade com 360 mil metros quadrados. Em fins de semana de sol, até 10 mil pessoas costumam visitá-lo. O Jardim está localizado no Parque Estadual das Fontes do Ipiranga, mais conhecido como Parque do Estado. Além das coleções de plantas nativas, algumas em extinção, é possível encontrar animais selvagens como bichos-preguiça, garças, tucanos entre outros. Para observar os animais, é preciso ter o olhar atento.
Vale uma visita ao Museu Botânico, aos bosques de pau-brasil, às palmeiras reais e ao orquidário. O Jardim Botânico tem vários recantos, que convidam as pessoas ao relaxamento e a aproveitar o ar puro. Não é raro encontrar gente fazendo piquenique à moda antiga, com cesto de guloseimas, toalha xadrez e até um toque de sofisticação, como um bom vinho tomado em taças de cristal. Para crianças, há distrações como o castelinho e trilhas fáceis de percorrer no meio da vegetação. Para os interessados em aprender um pouco mais sobre a flora, há cursos de jardinagem.
(João Sorima Neto, O Globo, 08/02/2008)