Diante de qualquer tipo de mudança climática, os países pobres e em desenvolvimento têm uma capacidade menor de responder com medidas compensatórias do que os desenvolvidos. A afirmação é do climatologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) Carlos Nobre, ao comentar artigo publicado na revista Science. O texto aponta que as mudanças climáticas poderão, já nas próximas duas décadas, ter efeitos negativos profundos sobre a agricultura e o sistema de alimentação, com conseqüências graves especialmente para os países mais pobres.
“Eles [os países mais pobres] têm menos riqueza, menos infra-estrutura e menos conhecimento, portanto, mais dificuldade de se adaptarem às mudanças climáticas. Como um mesmo aumento do nível do mar, Bangladesh teria menos condição de se adaptar do que os Estados Unidos ou um país europeu”, exemplificou Nobre, em entrevista à Agência Brasil.
O climatologista explicou que as temperaturas mais quentes no planeta induzem à redução das chuvas no semi-árido e secas mais freqüentes, que tornam a disponibilidade hídrica um fator ainda mais crítico. Os mais afetados, em potencial, seriam países pobres da África, da Ásia e da América Latina. “A produção agrícola, e tudo que depende da água, será muito prejudicado nessas regiões”, afirmou.
Os efeitos mais significativos do aquecimento global na agricultura devem ser sentidos, segundo Nobre, em meados desse século. “Isso se a agricultura desse país não se modernizar, evoluir rapidamente e tecnologicamente para se tornar mais eficiente, com uso de menos água, como já existe em países desenvolvidos”, ressalvou.
A modernização demandada, avaliou o especialista, depende de uma ajuda dos países ricos aos mais pobres. “É mais razoável imaginar esse cenário do que outro futuro em que populações viveriam na extrema linha de pobreza, dependendo do fornecimento de alimentos de outros países, como já é o caso de algumas populações africanas”, ponderou Nobre.
“Há que se desenvolver uma nova geração de estudantes e agricultores com capacitação tecnológica para praticar uma agricultura mais adaptada aos novos tempos”, defende o climatologista.
(O Dia, 10/02/2008)